Bernardo do Espinhaço, o músico popular da montanha

bernardo do espinhaçoHá quase 100 anos, o alemão Hermann Hesse contou a vida de um deslocado que se denominava Lobo da Estepe, em seu livro mais clássico. Bernardo do Espinhaço igualmente é uma alma rebelde, mas não por desajuste, e sim pela liberdade. A prova é este “Tardhi”, terceiro disco de uma trilogia que o caracteriza como autoridade na Música Popular da Montanha, como bem foi definido por um crítico musical.

Por música da montanha não imagine que será um arranjo de sonoridades da natureza. A música de Bernardo do Espinhaço enaltece a vida de montanhista que leva – não à toa ganhou a alcunha de cantor dos montanhistas/mochileiros -, em odes à liberdade do vento sobre arranjos tão belos quanto intricados.

Você escuta muito de MPB (tradicional e contemporânea), indie rock, influências da igual liberdade que pregava o Clube da Esquina (ele possui parceria com Marcio Borges, do Clube, e já fez shows com Lô Borges). A versatilidade vem de sua capacidade de multiinstrumentista. No trabalho ele toca violão, acordeon, piano e flauta, e o enriquece com viola caipira, ukelele e o que mais couber na canção.

Seus dois discos anteriores – “O Alumbramento de um Guará Negro em uma Noite Escura” e “Manhã Sã” ficaram em diversas votações especializadas entre os melhores trabalhos de seus respectivos anos de lançamento. Este “Tardhi” é seu disco mais…pop.

Por pop não entenda trabalho mais comercial. As canções continuam com o mesmo apuro em arranjos e composições.

Mas a mistura pop, indie rock com MPB e Clube da Esquina causa uma crocância especial logo de cara, em “Boralá”, quando ukelele dita o tom e uma guitarra em slide e acordeon ornam a melodia. O inusitado clipe, aliás, foi lançado de maneira inovadora no stories do Instagram em colaboração coletiva de 100 pessoas espalhadas pelo globo

Na mesma linha vem “Sobre os Montes”, enquanto as duas anteriores a esta, “Que é Para Você Saber” e “Rasgue o Céu” flertam com o pop rock orgânico de guitarra, baixo e bateria.

Como o próprio explica, a música que produz é um processo de cura, tanto para ele quanto tem a expectativa de que seja para o ouvinte, com textos belamente arranjados como em “A Trilheira” (esta no final se torna quase um rap, com a participação de Miss Garandi).

Belas baladas compõem o cardápio como “Benjamin”, onde narra a história do casal amigo Guilherme e Juliana, do Montanha para Todos, pelo filho pequeno desses, ou na que fecha o disco, “Os Senhores”. Na última, a participação especial é do músico Marcus Viana, ícone da canção progressiva brasileira.

Tem muito arranjo vocal na linha do Clube da Esquina, como em “O Homem que Curva”, e sons mais entre world music e regionais, caso de “Cabeça de Boi”.

O que sobra é uma mensagem bonita de apologia à liberdade como é a filosofia do trabalho depositada nos versos da canção de abertura, “Viver não tem manual/É movimento autoral”.

Isso de quem se define não como músico exatamente mas como “um lobo guará que escreve livros musicais sobre sua vivência na montanha” diz muito sobre autor e obra.

Veja o clipe de #BoraLá:

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