“Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão”, disse o psicoterapeuta Carl Jung. O lado sombrio da nossa personalidade muitas vezes é rejeitado pela nossa mente, já que traz à tona sentimentos e impulsos desagradáveis como a raiva, o ódio, o egoísmo e a violência. O arquétipo da sombra foi representado no novo single de Malú Lomando em parceria com Giu Melito, Dona Sombra, lançado nesta semana com exclusividade pelo projeto “Estou aqui para contar”, de Thainá Duarte.
A atriz da série Aruanas, produção original da Globo e Maria Farinha Filmes, interpreta a ativista Clara que precisa fugir do ex-namorado de quem sofreu violência doméstica. O incentivo para a criação da campanha foram os relatos que passou a receber diariamente de mulheres dividindo suas dores sobre seus relacionamentos abusivos. O objetivo é chamar a atenção sobre os altos números de violência doméstica no Brasil, já que relacionamentos abusivos atingem uma mulher a cada quatro minutos no país conforme dados do Ministério da Saúde.
A canção escolhida por Thainá para integrar o projeto fala sobre a importância de lidar bem com a sua própria sombra e aceitar a existência dela. “A maioria das pessoas sente a necessidade de ser bom e perfeito o tempo todo – principalmente as mulheres, por causa do patriarcado. Eu percebi que não adianta lutar contra o nosso lado obscuro, é importante acolher as nossas sombras e equilibrar nossas facetas, sejam elas bonitas ou não. Isso traz a gente para um lugar empoderado, podendo fazer melhores escolhas de vida”, conta Malú.
“Eu estava quase pronta, bem a me maquiar / Quando a Dona Sombra resolveu me visitar / E ela vem arrombando a porta / Sujando a roupa nova que eu ia usar / E ela tem um espelho no rosto e mesmo a contragosto, devo lhe servir um chá”, diz o trecho da canção, composta em parceria entre as duas artistas após vivenciarem processos emocionais intensos que se conectaram. O single foi gravado por elas em isolamento social, reflexo dos tempos vividos durante a pandemia. Dona Sombra é o primeiro single de Giu, que está em processo de gravação de seu disco com Maurício Ribeiro, com quem tem o duo Lua Em Peixes. Malú já mostra seu amadurecimento musical após o recente lançamento de Alphaleonis, seu primeiro álbum autoral lançado no início do ano.
“A Thainá é uma inspiração como artista, principalmente por criar um conteúdo tão urgente como esse. É o momento de pensar em como a nossa arte pode favorecer políticas e transformações sociais também. Essas reflexões e desconstruções são mais do que necessárias”, completa Malú. “Estou aqui para contar”, que estreou no dia 17 pelo Instagram, traz histórias e entrevistas com vítimas de violência doméstica, além de lives com autoridades no tema, como a farmacêutica Maria da Penha, símbolo da luta pelo fim da violência contra a mulher. Também irá promover uma grande convocação para as mulheres de todo o Brasil, em que serão convidadas a compartilhar seus relatos e estimular a denúncia.
Malú Lomando é cantora, compositora, muralista e atriz, formada pelo Teatro-escola Célia Helena. Na música desde os 14 anos, ela cantava nos festivais da escola e gravava covers no YouTube, até participar do programa Estúdio Acesso MTV em 2012, se classificando como uma das finalistas. De lá para cá, se desenvolveu como cantora e compositora, criando seu primeiro álbum autoral, Alphaleonis.
O disco é um mergulho profundo no autoconhecimento e reconstrução de Malú, que narra o amadurecimento de uma mulher que toma as rédeas de sua própria vida. Ao vivenciar os processos internos do fim de um relacionamento, a multiartista se descobre em um movimento intenso de transformações íntimas. Cada faixa do álbum autoral traz a energia de um dos quatro elementos da natureza com uma narrativa amarrada de forma cíclica, apresentando sentimentos como apego, tristeza, raiva, autorresponsabilidade, aceitação e amor próprio. Alphaleonis se expande para além de um álbum musical: também é mantra, também é cura, também é coragem.
Com gravações realizadas no Estúdio Invisível por Daniel Sanjines e Casca, o projeto independente recebeu produção executiva e direção artística de Renata Reis, braço direito da artista. Trazendo para os palcos a carga interpretativa da sua formação como atriz, Malú cria uma atmosfera teatral e ritualística em seu show, transformando o que poderia ser mero entretenimento musical em um espetáculo sensível de vulnerabilidades expostas.
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