Imagine começar uma banda num espaço improvisado, numa ilha cercada pelo Atlântico, longe dos centros culturais fervilhantes. Agora imagine que, poucos anos depois, essa mesma banda está lotando teatros em Lisboa, conquistando certificações de ouro e tendo sua música cantada por plateias que nem falam o seu idioma. Esse é o retrato dos Napa, o grupo português que virou fenômeno global depois do estrondo provocado por “Deslocado”.
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Guilherme Gomes, Lourenço Gomes, Francisco Sousa, Diogo Góis e João Rodrigues não escondem o orgulho de suas raízes madeirenses. Foi lá, numa sala quase improvisada, que começaram a dar forma à identidade da banda, uma mistura que vai da energia crua dos Arctic Monkeys e Red Hot Chili Peppers às melodias atemporais dos Beatles, sem abrir mão da poesia que aprendem com Caetano Veloso e Tom Jobim.
Mas a grande virada aconteceu quando deixaram o inglês de lado e decidiram cantar em português. “Foi assim, de uma música para outra, comecei a escrever em português e deu-me um clique. Percebi que conseguia ser muito mais genuíno e criativo”, conta Guilherme. O resultado não foi apenas um som mais autêntico. “Sentimos que o público cresceu muito a partir daí e temos uma conexão muito maior, porque não é só a sonoridade que conta, são também as letras.”
E que letras. “Deslocado”, lançada em março, virou um abraço coletivo para quem já mudou de cidade e passou a viver em um lugar que nunca será, de fato, casa. “Por mais que possa parecer / Eu nunca vou pertencer àquela cidade”, cantam, num refrão que atravessou fronteiras. Não à toa, a faixa disparou para o topo do Chart Viral no Brasil e voltou a ser número 1 em Portugal depois da apresentação na semifinal do Festival Eurovisão da Canção, na Suíça.
A banda representou Portugal no concurso europeu depois de vencer o Festival da Canção e viu a música ganhar ainda mais força em países improváveis como Estônia, Luxemburgo e Ucrânia. Hoje, “Deslocado” soma mais de 25 milhões de streams globais no Spotify e rendeu aos Napa o primeiro Certificado de Ouro, tudo isso em menos de três meses.
Apesar de toda a euforia, a essência do grupo permanece ligada à Madeira. “É o nosso lar. Os nossos pais estão lá, a nossa família está lá. Sempre que podemos, voltamos”, revela Guilherme, quase emocionado. Esse sentimento de pertencer a outro lugar é exatamente o que embala a música que os fez explodir. “Fala desse sentimento de sair de uma zona de conforto para um sítio que se calhar não sabe a casa.”
Se a inspiração veio dessa transição entre ilha e continente, a universalidade da canção surpreende até eles. “É fantástico ver pessoas de outros países, outras línguas, a cantarem ou a adaptarem a letra para sua cultura. Revela que o tema é transversal. Não é só sobre sair da Madeira para estudar em Lisboa, pode ser sobre ser forçado a sair de casa, seguir alguém, tantas coisas.” E o mais bonito? Até quem nunca se sentiu deslocado na própria terra se emociona. “Recebemos mensagens de quem vive no mesmo lugar onde nasceu e mesmo assim se sente tocado. Isso mostra a magia da música.”
Essa trajetória improvável, de um quartinho na Madeira aos coliseus lotados de Lisboa e Porto, onde tocarão em janeiro de 2026 com ingressos praticamente esgotados, é vivida com um certo espanto. “É inacreditável, surreal. Estamos muito agradecidos. Ver pessoas que nem percebem português cantando, tentando o nosso sotaque… é algo que só tínhamos visto com o Salvador Sobral. Agora está a acontecer com a nossa música.”
Numa indústria tão saturada, é reconfortante testemunhar uma banda que carrega tanta verdade. Os Napa provam que dá para misturar Arctic Monkeys com Caetano, Red Hot Chili Peppers com Tom Jobim, e sair disso tudo com algo que é profundamente português, mas fala ao mundo inteiro. Talvez porque, no fim das contas, todos nós tenhamos um pouco desse “deslocado” dentro da gente.
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