“Os Três Reis” nasce de uma estrutura promissora: três irmãos desconectados pelo tempo e pela dor, forçados a se reunir em uma jornada que cruza o sertão, a memória e a mágoa. No papel, a fórmula tem força dramática e potencial emocional. Mas o filme desperdiça sua chance de construir um verdadeiro épico familiar, apostando numa narrativa errática, repleta de excessos cômicos e incoerências espaciais que fragilizam qualquer sensação de realismo ou tensão.
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A premissa mistura road movie, comédia popular e melodrama familiar. O resultado, no entanto, oscila entre o improviso e o artificialismo. Tudo parece funcionar por impulso, não por consequência. A montagem não sustenta o ritmo da viagem e, pior, nunca dá a sensação de deslocamento real. Personagens cruzam cidades como se teletransportassem, perseguições carecem de lógica básica e a geografia do filme serve mais à conveniência do roteiro do que à construção de um mundo verossímil.
Há um descompasso entre o que o filme quer evocar e o que de fato oferece. O drama entre pai e filhos surge como promessa de catarse emocional, mas é abortado por escolhas narrativas frágeis e justificativas que resvalam num machismo mal disfarçado. As mulheres orbitam os protagonistas como acessórios narrativos, oferecendo apoio cego ou devoção inexplicável. São figuras que pouco acrescentam, a não ser como reforço de arquétipos ultrapassados.
Quando opta pela comédia, o filme investe num humor apelativo, construído em cima de caricaturas e situações forçadas. Há momentos que funcionam isoladamente, mas a maior parte do tempo a comédia parece um ruído que sabota o próprio drama que o filme tenta articular. E, ao fim, sobra pouco além de um amontoado de esquetes travestidas de jornada emocional.
É Gaspar quem oferece algum tipo de ancoragem dramática mais sólida. Entre todos, é o único personagem que carrega um senso de humanidade possível, ainda que preso dentro de uma estrutura que raramente lhe dá espaço para se desenvolver de fato. A atuação discreta e contida se sobressai justamente por destoar do tom histriônico que contamina boa parte do elenco.
“Os Três Reis” tenta mirar no coração popular do cinema brasileiro, mas erra ao se apoiar em fórmulas que já nasceram desgastadas. É um filme que abraça o afeto como estratégia, mas esquece que afeto exige profundidade, escuta, tempo e consistência. Sem isso, o que resta é uma comédia de superfície com pretensões emocionais que nunca se concretizam de verdade.
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