Há algo de profundamente perturbador em “A Caça”. Não pelo sangue, nem pelas cenas de violência explícita, mas pela forma como o filme traduz em imagens um tema real e urgente: a desumanização dos refugiados. Dirigido por Louis Lagayette, o longa é uma alegoria cruel do colapso moral de um mundo que transformou empatia em privilégio e vidas humanas em entretenimento.

A história começa com um grupo de refugiados que sobrevive a um naufrágio no Mar Mediterrâneo e é acolhido por europeus ricos em uma ilha paradisíaca. A promessa de abrigo e segurança logo se revela uma armadilha. O que parecia um gesto de solidariedade vira um pesadelo quando os refugiados descobrem que estão sendo caçados por esporte. O cenário idílico se transforma em um campo de horror, e a linha entre civilização e barbárie simplesmente desaparece.
O roteiro é direto e simbólico. O luxo dos anfitriões, o jantar generoso, o conforto ilusório tudo é uma crítica à hipocrisia das sociedades que se dizem acolhedoras, mas tratam a dor do outro como espetáculo. Ainda que o desenvolvimento não alcance toda a potência que o tema merece, há momentos em que “A Caça” atinge uma força quase documental. O olhar desesperado dos personagens e o silêncio que precede o caos carregam uma verdade incômoda demais para ser ignorada.
Lily Banda é o coração pulsante do filme. Sua protagonista resiste com fúria, medo e dignidade, sem precisar de discursos ou heroísmos forçados. Ela representa o instinto mais primitivo de sobrevivência, mas também a revolta de quem se recusa a ser reduzido à condição de presa. É nela que “A Caça” encontra humanidade em meio à brutalidade.
Tecnicamente, o longa é irregular. O orçamento limitado pesa nas cenas de ação e na construção de tensão, e a direção parece perder o controle quando aposta na violência gráfica. A fotografia, porém, faz um trabalho interessante ao contrastar o paraíso natural com o inferno moral que ali se instala. O problema é que o filme parece querer dizer muito e acaba dizendo pouco, escorregando em clichês e repetições que diluem sua crítica social.
Ainda assim, há algo de necessário em “A Caça”. Mesmo sem o refinamento de obras como “The Hunt” ou “O Homem que Caiu na Terra”, o filme funciona como espelho de um tempo em que o horror já não precisa de monstros. Basta olhar o noticiário.
“A Caça” é um soco sem elegância, mas com propósito. É um lembrete de que, enquanto uns brincam de caçar, outros lutam para existir.
“A Caça”
Direção: Louis Lagayette
Elenco: Lily Banda, Alec Newman, Argyris Gaganis, Daphne Alexander, Kostis Kallivretakis, Mylène Jampanoï, Pigmalion Dadakaridis, Raj Bajaj, Vassilis Koukalani
Disponível em: Prime Video
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