A nova visita ao universo de “A Família McMullen” parte daquela inquietação que sempre rondou narrativas familiares: o que acontece quando as pessoas que mais conhecem nossas falhas também são as que mais exigem que a gente evolua? O filme abraça esse dilema logo de início e, de forma quase provocativa, puxa o espectador para um reencontro que não trabalha com idealizações. Trabalha com desgaste, com vínculos tensionados, com a maturidade que chega sem pedir licença. O longa entende que revisitar personagens depois de três décadas é um exercício de coragem, porque cada reencontro revela o que o tempo fez e o que ele levou embora.

A família McMullen retorna já marcada por dúvidas acumuladas, frustrações que nunca foram totalmente organizadas e rotinas afetivas que sofreram rachaduras silenciosas. O olhar de Edward Burns não busca resgatar a aura do passado e sim entender como esses irmãos lidam com o fato de que a vida que imaginaram na juventude virou outra coisa. A casa dos cinquenta anos aparece como terreno fértil para testar limites emocionais, redefinir papéis e perceber que nem sempre a lealdade familiar entrega respostas claras. O filme mergulha nesse desconforto com honestidade, sempre buscando a fricção entre aquilo que se perdeu e aquilo que ainda pulsa.
É interessante como o diretor parte da própria história de “The Brothers McMullen” sem transformar o novo capítulo em uma armadilha nostálgica. O que surge aqui é outra energia, mais consciente, mais pragmática, mais alinhada com a complexidade da vida adulta. O retorno dos personagens funciona como um lembrete de que memórias podem ser confortáveis, mas o presente exige atualizações constantes. Nada permanece intacto, nem mesmo as dinâmicas familiares que pareciam imutáveis nos anos 90. O filme cresce quando evidencia que amadurecer também significa aceitar que o amor precisa se adaptar.
Mesmo com diálogos que às vezes soam engessados e com certa dependência emocional do legado do primeiro longa, a experiência se fortalece quando o elenco reencontra o terreno comum que sempre sustentou essa história. Os novos rostos dialogam com o passado de forma orgânica, mantendo o equilíbrio entre familiaridade e renovação. A estética aqui é menos crua que a do original, mais polida, mais limpa, algo que inevitavelmente afasta quem esperava a mesma textura indie que marcou o início da carreira de Burns. Ainda assim, há charme na forma como o filme constrói seus próprios rituais, sempre apostando na melancolia suave do reencontro e na humanidade imperfeita dos personagens.
A obra não tenta competir com o impacto do primeiro filme. Ela existe como consequência dele, como ponto final de um ciclo que explora as marcas da passagem do tempo. O resultado funciona como uma espécie de espelho: ninguém sai ileso do passado, e ninguém retorna ao lar do mesmo jeito que saiu. Entre acertos, excessos, escolhas seguras e momentos sinceros, “The Family McMullen” encontra sua força no reconhecimento de que crescer significa revisitar velhas dores com novas ferramentas.
“The Family McMullen”
Direção: Edward Burns
Elenco: Edward Burns, Michael McGlone, Bryan Fitzgerald (I)
Disponível em: HBO Max
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