A A24 retorna com uma produção ambiciosa que flerta com os clássicos da fantasia sombria oitentista, entregando uma narrativa visualmente marcante, mas dramaticamente desigual. “A Lenda de Ochi” parte de uma premissa promissora: uma jovem assustada, um mundo marcado pela desinformação e uma criatura adorável perseguida por mitos e medos enraizados. No papel, trata-se de uma trama sobre amadurecimento, empatia e preservação ambiental. Na prática, porém, o resultado oscila entre encanto e frustração.
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A história acompanha Yuri, uma garota criada sob rígidas normas de isolamento e medo, doutrinada a evitar qualquer contato com os misteriosos Ochi, seres da floresta tidos como ameaças ancestrais. Quando encontra um filhote ferido e decide devolvê-lo à sua família, ela embarca em uma jornada que deveria funcionar como rito de passagem e metáfora para reconciliação entre mundos opostos. A estrutura remete diretamente a obras como “E.T.” e “O Enigma de Outro Mundo”, mas sem alcançar a coesão narrativa ou densidade emocional desses ícones.
Visualmente, o filme é uma conquista. A cinematografia evoca uma fantasia clássica com requinte artesanal, apoiada por efeitos práticos bem executados e uma trilha sonora que sustenta a carga emocional mesmo quando o roteiro falha. As paisagens da ilha de Carpathia são capturadas com riqueza atmosférica, e o design dos Ochi revela um trabalho de criação encantador, com criaturas que misturam doçura e estranheza em igual medida.
No entanto, o grande obstáculo está no ritmo e na construção dramática. A montagem opta por uma cadência apressada, que sacrifica o desenvolvimento dos personagens e do próprio universo criado. O espectador é lançado de cena em cena sem tempo para absorver o impacto das descobertas ou estabelecer vínculos com os protagonistas. A protagonista, Yuri, carece de complexidade. Sua atuação, embora carregada de presença física, não transmite com clareza a evolução emocional pela qual a personagem deveria passar. Dafoe entrega solidez em suas cenas, mas o restante do elenco oscila entre o esquecível e o subutilizado.
Há também um problema conceitual: o filme introduz um mundo com tensão histórica entre espécies, mas evita explorar esse embate com profundidade, optando por simplificações morais e soluções simbólicas pouco convincentes. Mesmo os momentos mais inspirados parecem fragmentos de um universo que não chegou a ser plenamente realizado.
“A Lenda de Ochi” não falha por falta de visão, mas por indecisão narrativa. A tentativa de equilibrar espetáculo visual com sensibilidade emocional esbarra em um roteiro que se apoia demais nas referências e pouco investe em identidade própria. Ainda assim, há mérito no esforço em trazer uma fantasia original ao público infantojuvenil, especialmente em tempos de saturação por franquias recicladas. Para crianças e fãs nostálgicos do gênero, pode haver encantamento suficiente. Para os mais exigentes, faltará consistência.
Se há algo a destacar como legado deste projeto, é a coragem de propor um novo mito em um cinema cada vez mais avesso ao risco. “A Lenda de Ochi” é uma fábula moderna visualmente interessante que, apesar de tropeçar ao tentar encontrar seu tom, deixa sementes promissoras no solo da fantasia.
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