Algumas histórias nascem para cutucar a ferida das aparências perfeitas. “A Namorada Ideal” abre esse jogo com astúcia: o lar impecável, a mãe bem-sucedida, a vida confortável que parece saída de catálogo de luxo. Mas basta a chegada de uma nova peça nessa engrenagem para que tudo desmorone. O suspense aqui não é sobre um crime evidente, mas sobre as rachaduras invisíveis que aparecem quando se olha muito de perto.
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O maior trunfo da série está em brincar com o espectador, forçando-o a se perguntar o tempo inteiro quem realmente está no controle. Laura, interpretada por Robin Wright, surge como a mãe zelosa que só quer proteger o filho, mas rapidamente sua vigilância se transforma em obsessão sufocante. Cherry, vivida por Olivia Cooke, por sua vez, oscila entre a figura da oportunista calculista e a jovem que só busca espaço em um mundo de privilégios que sempre a excluiu. A série recusa entregar respostas fáceis, deixando cada detalhe aberto para múltiplas interpretações.
Tecnicamente, “A Namorada Ideal” se constrói como um duelo psicológico elegante. A direção de Robin Wright nos primeiros episódios estabelece um ritmo que alterna requinte visual e inquietação latente. Há uma sofisticação na forma como a fotografia captura o contraste entre o universo opulento da família Sanderson e as origens mais modestas de Cherry, traduzindo na tela a tensão de classes que alimenta toda a narrativa. É nesse embate entre luxo e marginalidade que a trama encontra sua força.
As atuações são sólidas e complexas. Wright imprime autoridade à sua personagem, tornando crível cada deslize paranoico, enquanto Cooke confere camadas de vulnerabilidade a uma figura que poderia facilmente ser reduzida a estereótipos. Laurie Davidson, como o filho dividido entre duas forças opostas, serve mais como catalisador do conflito do que como protagonista de fato, e isso funciona. A série pertence às mulheres, às suas obsessões, manipulações e fragilidades.
Há exageros, claro. O roteiro às vezes flerta demais com a caricatura, especialmente ao intensificar a rivalidade de maneira quase teatral. Mas isso acaba se tornando parte do charme: o espectador é jogado em uma guerra de percepções em que ninguém é confiável. O verdadeiro suspense não está em descobrir quem mente, mas em perceber o quanto cada versão da verdade molda o jogo de poder entre elas.
“A Namorada Ideal” não entrega um suspense convencional, desses que se resolvem com uma revelação final. É mais corrosiva que isso. Faz pensar sobre obsessões mascaradas de cuidado, sobre ambições disfarçadas de amor e sobre como relações familiares podem ser campo fértil para paranoia. Um drama que mostra que, às vezes, o perigo não chega de fora ele já estava dentro de casa, esperando a primeira oportunidade para emergir.
“A Namorada Ideal”
Criação: Gabbie Asher, Naomi Sheldon
Elenco: Robin Wright, Olivia Cooke, Laurie Davidson
Disponível no Prime Video
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