“A Visão” tenta ser um filme comovente, inspirador e universal, mas termina como um projeto hesitante, inchado e excessivamente preocupado em agradar. A história real por trás do roteiro é poderosa. Um médico que vence a pobreza, o trauma e a discriminação até se tornar um dos grandes nomes da oftalmologia contemporânea tem todos os ingredientes para um drama sólido. Mas o que poderia ser um estudo de personagem profundo acaba diluído em flashbacks excessivos, conflitos subdesenvolvidos e uma montagem que nunca encontra equilíbrio.
Do mesmo diretor de “Noites Brutais”, “A Hora Do Mal” estreia em agosto no Brasil

O longa não sabe se quer contar a trajetória de um gênio da medicina, o drama de uma infância marcada pela opressão ideológica, ou o milagre da ciência no restauro da visão. E ao tentar contar tudo ao mesmo tempo, acaba não contando nada com profundidade suficiente. É como assistir a três filmes diferentes competindo pela mesma tela.
A estrutura narrativa oscila entre presente e passado com uma frequência que compromete a fluidez emocional. Cada corte para a infância do protagonista na China carrega peso histórico e potencial dramático, mas a forma como esses fragmentos são incorporados soa mecânica, quase didática. A repetição torna a dor previsível, e a previsibilidade esvazia o impacto. A violência da Revolução Cultural, os dilemas da imigração, a xenofobia enfrentada nos Estados Unidos, a solidão do gênio: todos esses temas são tocados, mas nenhum é realmente enfrentado.
Visualmente, o filme aposta numa estética limpa, com fotografia discreta e um uso excessivo de trilhas que tentam forçar emoção onde o roteiro falha em construir conexão. O som tenta ser ponte, mas vira muleta. E quando o clímax chega, com a tentativa de restaurar a visão da jovem paciente, o impacto é real, mas não genuíno. Funciona porque a premissa emociona por si só, não porque o filme construiu aquele momento com consistência.
O elenco entrega atuações seguras, mas engessadas pelo texto. Há pouco espaço para nuance, e os diálogos frequentemente escorregam em frases prontas, como se o roteiro estivesse mais preocupado em ensinar uma lição do que em explorar a complexidade humana que a história exige. A emoção que deveria vir da verdade vem do artifício.
É inegável que o filme tem boas intenções. Mas boas intenções não salvam um roteiro desorganizado. “A Visão” quer ser simultaneamente uma crônica pessoal, um comentário político e uma ode à medicina como forma de redenção. Essa ambição desmedida compromete o foco e transforma o que poderia ser um estudo íntimo em um mosaico genérico.
Existe, sim, um bom filme escondido aqui. Um que trata com precisão os dilemas éticos da medicina, a relação entre fé e ciência, o peso da memória. Mas “A Visão” não consegue encontrá-lo. Falta direção autoral, falta coragem de abandonar o que não serve, falta entender que menos pode ser mais quando se tem uma história tão poderosa nas mãos.
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