Quando Addison Rae anunciou “Addison”, o discurso de que essa seria sua primeira e última obra musical parecia, à primeira vista, uma estratégia de marketing provocativa. Mas a verdade é que o álbum carrega, em sua essência, exatamente essa sensação de despedida antecipada, de obra encapsulada, pensada para existir como um statement definitivo na história do pop.
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“Addison” não soa como uma brincadeira de influencer que resolveu brincar de ser cantora. Existe aqui um projeto de pop meticulosamente arquitetado, ancorado em escolhas estéticas sólidas, decisões de produção cirúrgicas e uma compreensão bastante afiada da própria persona artística. Addison não quer soar como alguém que está testando as águas. Ela entra nesse jogo decidida a imprimir sua digital, talvez consciente de que, para ela, esse jogo tem tempo limitado.
O álbum abraça uma sonoridade que transita entre o pop eletrônico exuberante, sintetizadores nostálgicos e uma atmosfera que flerta descaradamente com elementos do trance, do eurodance e de recortes noventistas. Existe um fio condutor que faz “Addison” respirar como um corpo coeso, onde tudo parece dialogar: das escolhas percussivas à textura dos vocais, da mixagem polida ao design sonoro que, em momento algum, soa datado ou gratuito. O pop aqui é tratado como uma ciência exata, mas entregue com uma naturalidade que disfarça o rigor do laboratório.
O trabalho de produção é, sem exagero, imaculado. Cada camada é milimetricamente posicionada, cada elemento ocupa seu espaço com precisão quase obsessiva, revelando um cuidado que não é comum em debutes de artistas saídos da bolha digital. Existe uma sofisticação que impressiona, especialmente quando se considera que todo o álbum é assinado por uma equipe majoritariamente feminina, que entende profundamente como tensionar os limites do pop sem nunca perder sua funcionalidade na pista, no rádio ou no streaming.
Se há algo que torna “Addison” particularmente interessante, é sua habilidade de equilibrar duas forças que, em tese, poderiam se anular: a superficialidade proposital da estética pop e uma profundidade emocional que surge, ora como melancolia, ora como ironia, ora como desejo incontrolável de existir plenamente. É um disco que se permite ser bobo, sedutor, sombrio e etéreo, tudo isso sem pedir desculpas.
É claro que não estamos diante de uma obra que reinventa o gênero. Mas também não há qualquer tentativa de disfarçar isso. “Addison” sabe exatamente o que é: uma ode ao escapismo, à cultura da performance, ao desejo de pertencer e ser observado. Addison não promete uma revolução sonora. Ela oferece algo muito mais raro na indústria atual: um pop feito com método, intenção e estética impecável.
No final das contas, discutir se Addison é ou não uma artista legítima talvez seja irrelevante. A legitimidade, neste caso, está no fato de que ela entrega um álbum que qualquer popstar da atualidade teria orgulho de assinar. E isso, no mundo hiperacelerado da cultura pop, já é um feito que merece respeito.
Nota: 85/100
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