“Amor Bandido”, dirigido por Jonathan Eusebio, apresenta-se como uma tentativa de amalgamar ação, romance e comédia em um mesmo espaço narrativo. Contudo, ao longo de seus 83 minutos, o filme revela falhas estruturais graves que comprometem a execução de suas ambições iniciais.
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O roteiro propõe um conceito potencialmente interessante: Marvin Gable, interpretado por Ke Huy Quan, é um ex-assassino que tenta reconstruir sua vida como corretor de imóveis nos subúrbios de Milwaukee, até ser arrastado de volta ao submundo do crime pela reaparição de sua antiga parceira Rose, interpretada por Ariana DeBose. A proposta, que poderia sugerir uma abordagem subversiva ou estilizada do gênero, é rapidamente desperdiçada em razão de um desenvolvimento narrativo pouco coeso e de uma direção carente de identidade visual e rítmica.
O filme enfrenta dificuldades fundamentais já em sua ambientação. A tentativa de conciliar tons de comédia romântica e thriller de ação não apenas se mostra mal calibrada como expõe a falta de clareza sobre o propósito dramático da obra. As sequências de ação, elemento vital em uma narrativa com esta proposta, são mal coreografadas e editadas de maneira fragmentada, o que prejudica a fluidez e a energia necessárias para sustentar o suspense e o dinamismo. A falta de precisão nos cortes e a ausência de um trabalho mais cuidadoso de mise-en-scène revelam a inexperiência do diretor no gerenciamento de cenas de alta complexidade física.
Do ponto de vista dramático, “Amor Bandido” falha na construção de personagens que sustentem emocionalmente o enredo. Embora Ke Huy Quan demonstre um comprometimento louvável com o material, seu Marvin carece de densidade psicológica. A motivação do personagem para abandonar e depois retomar sua vida anterior é tratada de maneira superficial, impedindo o espectador de se engajar genuinamente com seus conflitos internos. Ariana DeBose, apesar de sua competência cênica, é limitada por diálogos expositivos e por uma direção que não favorece o desenvolvimento orgânico da química entre os protagonistas. A relação entre Marvin e Rose, que deveria ser o núcleo emocional do filme, é construída de forma esquemática e incapaz de transmitir a complexidade emocional de um reencontro entre antigos cúmplices marcados pela culpa e pela desconfiança.
O problema central reside na ausência de uma concepção estilística definida. “Amor Bandido” oscila entre um desejo de evocar filmes grindhouse contemporâneos e uma superficialidade típica de produções voltadas apenas para o entretenimento rápido, sem se comprometer com nenhuma dessas abordagens. A estética visual, que poderia ter sido uma ferramenta poderosa para reforçar o tom ambíguo do filme, limita-se a uma fotografia genérica e a uma paleta de cores sem identidade. A direção de arte falha em criar ambientes que reforcem a tensão narrativa, resultando em cenários que soam artificiais e desconectados do drama proposto.
O ritmo, crucial para a eficácia de um filme de ação com elementos cômicos, sofre com uma montagem irregular que prejudica a progressão dramática e gera uma sensação de estagnação. A alternância entre cenas de ação e momentos de tentativa de humor carece de cadência, provocando quebras tonais que fragmentam a experiência do espectador.
Narrativamente, o filme também não se beneficia de suas escolhas estruturais. A reintrodução de Rose, que deveria catalisar a transformação de Marvin e impulsionar o segundo ato, ocorre de maneira abrupta e sem a preparação adequada. O desenrolar da conspiração que envolve ambos é tratado de forma apressada e desprovida de tensão real, transformando o clímax em um evento previsível e anticlimático. As resoluções narrativas soam apressadas e pouco satisfatórias, subestimando a inteligência emocional do público.
“Amor Bandido” é um projeto que revela mais as intenções do que as realizações de seus idealizadores. A combinação de um conceito promissor com uma execução imatura resulta em uma obra incapaz de estabelecer identidade própria, de sustentar coerência tonal ou de criar qualquer impacto dramático duradouro. A performance esforçada de Ke Huy Quan é insuficiente para resgatar o filme de suas deficiências estruturais e estilísticas. A obra termina, assim, como um exercício frustrado que ilustra a distância entre a ideia de um filme inovador e a concretização efetiva dessa ideia em linguagem cinematográfica.
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