“The End of Genesys” encerra a trilogia iniciada por Anyma em 2023 com promessas de épico audiovisual, sets imersivos no Sphere e colaborações de alto perfil. A ambição, porém, se dilui em uma sequência de faixas polidas que jamais alcançam a transcendência anunciada ao longo da campanha de marketing. O álbum vira vitrine de recursos técnicos impecáveis sem entregar substância narrativa ou sensorial equivalente.
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A abertura mantém o padrão de progressões melódicas ascendentes sobre kick + bass linear, marca registrada da Afterlife. Síntese granular, pads corais e vozes processadas sugerem escala cósmica, mas o clímax repousa na mesma fórmula de drop melódico que Anyma vem repetindo desde “Genesys”. Há brilho superficial, falta urgência emocional. Quando “Angel in the Dark” surge, Nathan Nicholson oferece timbre etéreo que contrasta com o groove de Massano, criando expectativa por algo mais orgânico, expectativa logo frustrada quando o arranjo gira em torno do mesmo hook de quatro compassos por quase sete minutos.
“Hypnotized” conquista números expressivos, sobretudo graças à interpretação cristalina de Ellie Goulding, devidamente empilhada em camadas de reverb. A mixagem abre espaço para a voz, mas o instrumental permanece estático. É single de rádio eficiente, ainda assim incapaz de expandir o universo temático de Genesys. Colaborações posteriores seguem roteiro idêntico. “Voices in My Head” adiciona leads ácidos de Argy e Son of Son, sem surpreender. “Neverland (from Japan)” insere percussão oriental previsível, esboçando identidade que se dissolve quando o break cede ao mesmo drop melódico cinzento. O ponto mais distinto chega em “Work”: Yeat aplica flow trap cortante, desafiando o BPM house. Mesmo aí, a base se dobra em vez de se reinventar.
Os visuais exibidos no Sphere continuam impressionantes, misturando biocibernética, motivos religiosos e estética cyberpunk com altíssima resolução. Quando o clipe define o impacto maior que a própria música, algo se perde. É possível admirar a execução técnica da obra, mas difícil criar vínculo afetivo. A narrativa sobre pós-humanismo e transcendência digital, iniciada em “Genesys”, termina resumida a slogans piscando em LED, sem desfecho lírico consistente.
A masterização valoriza frequências médias, garantindo clareza em sistemas de som potentes e streaming. O sidechain suave mantém pulsação constante sem inflar demais o low-end. Nada fora do lugar, nada arriscado. A produção beira a perfeição clínica, qualidade que infelizmente contribui para a sensação de vazio.
Dentro da tracklist, dois momentos resistem à mesmice. “Synthetic Lullaby” (instrumental sem single prévio) experimenta contraponto harmônico em escala frígia e timbres FM abrasivos, lembrando John Hopkins em modo dark. “Final Transmission” encerra o álbum com coral infantil em progressão modal que evoca James Horner, sugerindo caminho que merecia exploração mais profunda.
Thematicamente, Anyma lança perguntas sobre identidade pós-humana, criação de deuses de silício e busca espiritual em máquinas. Contudo, as letras se limitam a frases genéricas projetadas para telões: “We merge with light”, “Rewrite the code”, “Awake in data”. A ideia de ópera techno falha porque o libreto se resume a buzzwords.
“The End of Genesys” poderia culminar em catarse sonora ou reflexão conceitual, mas termina como playlist de festival, pronta para pirotecnia visual. O som impressiona pelos detalhes microscópicos e pela robustez de mix, mas carece de alma. Quem esperava fechamento grandioso para a saga ouvirá variações de uma mesma peça. Fãs de pista encontrarão energia, amantes de storytelling vão sentir falta de risco artístico.
Nota: 34/100
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