Há séries que chegam sem pedir licença, com a força de um soco que mistura história, brutalidade e ficção. “As Mortas” é exatamente isso: um mergulho sombrio no México dos anos 1960 que troca o romance idealizado por um retrato de exploração, desejo e violência. A obra constrói uma atmosfera sufocante onde cada diálogo, cada silêncio e cada gesto revelam um país corroído pela impunidade.
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Baseada no livro de Jorge Ibargüengoitia, a série toma como ponto de partida o caso real das irmãs González Valenzuela, transformadas aqui em Serafina e Arcángela Baladro. O que poderia ser apenas uma narrativa sobre crimes escandalosos cresce para algo maior: uma crítica à lógica patriarcal que permitiu a essas mulheres ascenderem por meio da escravidão sexual. Não se trata apenas de mortes, mas de um sistema que sustentava e protegia a barbárie.
Tecnicamente, “As Mortas” impressiona. A fotografia cria uma paleta dura, repleta de sombras que parecem colar na pele, como se a sujeira moral fosse também física. A direção de Luis Estrada dá ritmo a um enredo que oscila entre paixão avassaladora e destruição inevitável, sem medo de mostrar o grotesco. Há uma cadência quase literária no modo como a trama se desenrola, com capítulos que mais lembram a estrutura de um romance trágico do que de um thriller televisivo.
Os atores entregam interpretações afiadas. Paulina Gaitán constrói uma Serafina que mistura fragilidade e brutalidade em doses iguais, enquanto Arcelia Ramírez carrega Arcángela com a intensidade de quem sabe que poder e crueldade são faces da mesma moeda. Alfonso Herrera surge como contraponto masculino, mas é engolido pela presença magnética das duas protagonistas. A série é, antes de tudo, sobre mulheres que desafiaram as regras de um jogo injusto e se tornaram monstros dentro dele.
Há excessos? Sim. Algumas passagens alongam conflitos que poderiam ser mais enxutos, e o ritmo pode parecer arrastado em certos episódios. Mas isso pouco importa diante da força estética e da ousadia temática. “As Mortas” é mais que uma adaptação de um livro polêmico: é um retrato feroz de um México mergulhado em sangue, desejo e corrupção, que expõe a perversidade de um sistema capaz de fabricar assassinas em série a partir de vítimas de um mundo desigual.
“As Mortas”
Criação: Luis Estrada
Elenco: Alfonso Herrera, Arcelia Ramírez, Paulina Gaitán
Disponível na Netflix
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