A nova versão de “Banquete de Casamento” (2025), dirigida por Andrew Ahn, ressignifica o clássico de Ang Lee de 1993 com um olhar contemporâneo, queer e profundamente sensível. Ambientado em Seattle e focado em dois casais LGBTQIA+, o longa transforma a estrutura da comédia romântica em um espaço de negociação cultural, familiar e afetiva. O filme estreou nos cinemas dos Estados Unidos em abril de 2025, mas ainda não tem previsão de estreia no Brasil.
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A premissa se ancora em uma farsa matrimonial: Angela e Min fingem estar noivos para agradar os pais coreanos tradicionais dele. Por trás da mentira, escondem-se motivações muito reais Angela precisa financiar mais uma inseminação artificial com sua parceira Lee, enquanto Min busca estabilidade migratória para evitar o retorno forçado à Coreia. Ao redor deles, os respectivos parceiros Lee e Chris assistem à encenação com um misto de frustração, cumplicidade e resignação. Ahn estrutura o roteiro como um vaivém emocional entre as fronteiras da convenção e da verdade, propondo não apenas uma comédia de enganos, mas um ensaio sobre a performatividade das relações.
O filme acerta ao equilibrar tons. Há momentos de humor leve, mas o centro emocional da obra está em temas mais densos: pressões culturais, expectativas familiares, o esgotamento de processos de fertilização e a dor da alienação afetiva. Ahn não suaviza esses conflitos, mas também evita o melodrama, alcançando uma naturalidade rara em narrativas LGBTQIA+ sobre família e desejo.
Kelly Marie Tran entrega uma performance controlada e madura como Angela, reforçando a complexidade emocional de uma mulher queer que deseja ser mãe, mas precisa negociar seu desejo com limitações práticas e emocionais. Han Gi-chan é uma revelação, carismático e vulnerável em medidas iguais, e sua presença sustenta com convicção o centro dramático do filme. Joan Chen e Youn Yuh-jung, veteranas experientes, elevam cada cena em que aparecem, contribuindo para um retrato mais tridimensional da geração mais velha, sem reduzi-la a vilania ou ignorância.
Esteticamente, o filme se beneficia de uma direção de arte intimista e precisa. O design de produção nunca exagera nas referências culturais, mas reconhece o espaço simbólico das cerimônias e da casa como campo de batalha emocional. Ahn também injeta metalinguagem e afeto em pequenos detalhes como a presença de “Retrato de uma Jovem em Chamas” numa prateleira de DVDs que reforçam o diálogo da obra com o cinema queer contemporâneo.
A trilha sonora é discreta e bem inserida, reforçando o clima afetivo sem forçar emoções. O roteiro, por sua vez, apesar de ocasionalmente recorrer a soluções previsíveis, compensa pela autenticidade dos diálogos e pela forma como constrói o drama a partir das particularidades dos personagens. Não há antagonistas claros, apenas pessoas tentando conciliar pertencimento, desejo e legado.
Diferente de “Fire Island” (2022), onde Andrew Ahn explorava o humor ácido em uma releitura de “Orgulho e Preconceito”, aqui o foco é menos satírico e mais humano. “Banquete de Casamento” não busca inovar a estrutura das comédias românticas, mas atualizá-la com significados mais coerentes com as identidades e conflitos do presente.
O filme acerta também ao tratar a homossexualidade com nuance: ela aparece como parte da vida e não como o único eixo dramático dos personagens. É nesse aspecto que Ahn se distancia de tantos outros filmes LGBTQIA+, ao tratar o queer não como choque, mas como cotidiano.
“Banquete de Casamento” é uma comédia romântica elegante, comovente e honesta. Ao reformular um clássico, Ahn evita a armadilha da reverência excessiva e entrega algo que se sustenta por méritos próprios. É uma obra que, além de entreter, amplia os limites de pertencimento dentro do gênero. Um filme sobre fingir o amor para, enfim, descobrir o que é ser amado de verdade.
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