Barbra Streisand não precisa provar mais nada para ninguém. Aos 82 anos, ela já conquistou tudo. Mas o gesto de lançar um disco como “The Secret of Life: Partners, Volume 2” em 2025 mostra que, mesmo com uma carreira consolidada, ainda há espaço para revisitar ideias antigas com uma sofisticação rara. O disco, sucessor tardio do bem-sucedido “Partners” de 2014, não soa como uma continuação apressada. Pelo contrário, é um trabalho meticuloso, elegante, pensado com um tipo de calma que só quem atravessou seis décadas de indústria consegue sustentar.
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Mais do que reunir nomes distintos em duetos formais, o álbum constrói um mosaico de gerações, estilos e histórias pessoais que orbitam em torno da mesma pergunta: o que sustenta o tempo de uma voz? É um trabalho sobre o gesto de dividir a interpretação, sobre o risco de encontrar eco em alguém que vem de outro universo musical. Streisand nunca tratou seus duetos como intercâmbios decorativos. Desde sempre, ela entendeu que cantar com o outro é um ato de dramaturgia. Aqui, mais uma vez, ela faz isso com absoluta precisão emocional.
Há um traço clássico no arranjo de todo o disco. A produção orquestral aposta em camadas suaves, com textura analógica e um refinamento que foge de qualquer tentativa de modernizar Streisand à força. O que se ouve é uma artista em total controle, que permite aos convidados dialogarem com sua voz sem jamais perder o protagonismo. É um disco que recusa a pressa, com interpretações longas, respirações abertas e espaço para que o silêncio trabalhe junto com os instrumentos.
A escolha dos parceiros talvez seja o elemento mais interessante do projeto. Há algo de generoso e ao mesmo tempo consciente na curadoria. A Barbra que se apresenta aqui entende que, para manter a relevância, não basta apenas repetir os grandes nomes de sua geração. É preciso dialogar com o novo sem perder a própria assinatura. O resultado é um disco que navega entre a tradição e o frescor, sem nunca ceder ao modismo.
O repertório, como esperado, é moldado para acomodar esse diálogo intergeracional. Não há surpresas estilísticas no sentido formal, mas há surpresas na forma como os timbres se cruzam, como se olhassem para a música com distâncias diferentes. É um disco que se constrói menos pelo repertório e mais pelas intenções. E isso é raro. A emoção aqui não está nas notas altas, mas nos detalhes sutis, na forma como certas frases ganham novo peso quando cantadas em dupla.
Mesmo que alguns encontros soem menos impactantes que outros, a unidade estética do álbum é mantida do início ao fim. Há um cuidado artesanal em cada transição, cada arranjo, cada entrada de voz. “The Secret of Life: Partners, Volume 2” é, antes de tudo, um álbum sobre presença. Barbra Streisand está inteira, em cada segundo, em cada sílaba, conduzindo o ouvinte com a autoridade de quem ainda tem muito a dizer mesmo quando decide apenas sussurrar.
Ao fim, o disco se impõe como uma espécie de celebração silenciosa. Não se trata de um retorno triunfal nem de uma despedida disfarçada. É um exercício de permanência. Streisand nos relembra que o segredo da vida pode estar justamente aí: em continuar cantando com os outros, por eles e apesar deles, enquanto ainda houver tempo para mais uma canção.
Nota: 68/100
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