Filmes de terror geralmente se constroem a partir do medo humano, mas “Bom Menino” inverte a lógica ao entregar o olhar a quem sempre percebe o que o homem ignora: o cachorro. A história acompanha Todd, um homem em recuperação que se muda para a antiga casa de campo da família ao lado de seu fiel companheiro, Indy. O local, cercado por rumores sobre uma presença demoníaca, serve como palco para uma narrativa que mistura sobrenatural, vulnerabilidade e o tipo de amor que atravessa o medo.

Indy é o centro emocional e narrativo de tudo. A câmera o acompanha rente ao chão, tornando o espectador refém da sua perspectiva limitada, silenciosa e, por isso mesmo, profundamente angustiante. A mansão parece infinita, escura e viva, como se respirasse junto aos passos do animal. Quando Todd começa a sucumbir às forças malignas que o cercam, é Indy quem observa o abismo se abrir, preso entre o instinto e a impotência.
Há algo de corajoso na simplicidade da direção de Ben Leonberg. O filme sabe quando revelar e quando recuar, evitando o erro comum de expor demais. O horror aqui não nasce do susto, mas da tristeza. “Bom Menino” entende que o medo maior não está no demônio que habita a casa, mas na fragilidade dos laços entre quem ama e quem está prestes a perder.
Leonberg usa o terror como uma metáfora para a doença, a finitude e a presença constante da morte. O que torna o filme especial é justamente o modo como transforma esse tema em algo humano ainda que contado por um olhar animal. Indy não fala, mas entende. Ele observa o sofrimento do dono, percebe o peso dos dias, as vozes que o adoecem, os silêncios que o consomem. E como todo cachorro faria, permanece.
Há ecos de “Courage the Cowardly Dog” em versão realista, mas sem o humor cartunesco. Tudo é mais cru, mais denso, mais devastador. O terror se aproxima da poesia visual, com enquadramentos que reduzem Indy a um ponto de luz no meio da escuridão, uma centelha de inocência cercada por forças que não compreende, mas enfrenta mesmo assim.
O roteiro de Ben Leonberg e Alex Cannon traduz a relação entre o humano e o animal com uma delicadeza que o gênero raramente oferece. O resultado é um filme sobre lealdade e perda, sobre o vínculo silencioso entre dois seres que se reconhecem na dor. Indy vê o invisível, mas o verdadeiro horror é aquilo que Todd sente a proximidade da morte, o esgotamento da esperança, a solidão de quem entende que o tempo está acabando.
“Bom Menino” é menos sobre fantasmas e mais sobre o que resta quando eles vão embora. Sobre a fidelidade que continua mesmo quando tudo o mais desaparece. É o tipo de terror que não termina quando as luzes se acendem, porque o medo que provoca vem do que cada um carrega dentro de si.
“Bom Menino”
Ano: 2025
Direção: Ben Leonberg
Roteiro: Ben Leonberg, Alex Cannon
Elenco: Shane Jensen, Arielle Friedman, Larry Fessenden
Duração: 1h13min
Gênero: Suspense, Terror
Disponível em: cinemas a partir de 30 de outubro de 2025
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