“Avenoir” carrega um peso emocional raro, desses que não se impõem pelo volume, mas pela profundidade. O terceiro álbum de Calum Scott soa como uma viagem ao avesso da memória, uma busca por entender o que ainda pulsa depois que tudo se quebra. Há algo de profundamente humano na forma como ele canta sobre o passado como quem o encara de frente, sem medo de se perder em suas próprias lembranças.

O título vem da palavra criada por John Koenig em The Dictionary of Obscure Sorrows, que define “avenoir” como o desejo de que a memória pudesse fluir para trás. E é exatamente isso que Scott faz aqui: rema contra o tempo, olhando para onde já esteve, tentando decifrar o que deixou para trás. O resultado é um álbum que mistura arrependimento, amor e redenção em igual medida, sem nunca soar calculado. Cada faixa respira como um fragmento de algo vivido, sincero e cru.
Tecnicamente, o disco é impecável. A produção, assinada por Jon Maguire, acentua a delicadeza de Scott sem apagar sua força. Há um equilíbrio entre o minimalismo e a grandiosidade, entre o piano confessional e os arranjos que abraçam o pop de arena. Scott compreende o poder do silêncio, e é nesse intervalo entre notas que a emoção se instala com mais clareza. Sua voz, cristalina e ferida ao mesmo tempo, é o centro de gravidade de “Avenoir”.
O álbum se desenha como um ciclo: começa luminoso, quase esperançoso, e mergulha em camadas de dor e aceitação. Não há pressa, não há tentativa de forçar impacto. É uma obra que se constrói na contemplação, na escuta atenta. Há momentos de catarse, mas o que realmente marca é o equilíbrio o controle emocional de quem já passou por tudo e agora observa o mundo com serenidade.
O ápice está na faixa-título, que funciona como espelho do próprio conceito do álbum: “Avenoir” é tanto um recomeço quanto um adeus. Scott abre espaço para a vulnerabilidade, mas nunca para o desespero. Há luz nas ruínas. E quando chega ao final com a releitura de “I Wanna Dance With Somebody”, o que poderia parecer ousadia vira tributo puro. Ele transforma o clássico de Whitney Houston em algo próprio, um gesto de gratidão e libertação. É como se dissesse: o passado pode dançar com o presente, e essa dança é o que mantém a chama acesa.
No conjunto, o álbum funciona como uma declaração artística madura. Calum Scott entende o poder da emoção sem medo de parecer sensível demais. Sua entrega é técnica, mas também visceral. “Avenoir” soa como um álbum de transição e de chegada ao mesmo tempo o ponto onde o artista deixa de buscar validação e simplesmente existe dentro da própria arte.
Ao final da audição, fica a sensação de que Scott não tenta ser maior do que já é. Ele apenas se permite ser verdadeiro, e isso é o que o torna colossal. “Avenoir” é um desses trabalhos raros em que a beleza não está no espetáculo, mas no silêncio que fica depois da última nota.
Nota: 78/100 | Calum Scott, “Avenoir”
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