Crítica: Chappell Roan, “The Rise and Fall of a Midwest Princess”

Quem diria que já se passou um ano desde que Chappell Roan lançou “The Rise and Fall of a Midwest Princess“? Se você piscou, perdeu o início da ascensão de uma das mais singulares vozes da música pop atual. O álbum, lançado em 22 de setembro de 2023, pode não ter explodido de cara, mas como todo bom ícone cult, ele foi crescendo de mansinho e acabou se tornando um fenômeno. E quer saber? Nada mais justo para um disco que mistura de tudo um pouco: pop, synth-pop, new wave, folk-pop, country e, claro, muito glitter e ousadia.

Crítica: Chappell Roan, “The Rise and Fall of a Midwest Princess” | Foto: Reprodução

Logo de cara, precisamos falar sobre a trajetória dessa mulher que fez o impossível parecer só mais um dia de trabalho. Roan não é um “produto da indústria” como muita gente por aí. Ela levou tempo, muito suor, e alguns tapas da vida – tipo ser demitida pela gravadora porque “Pink Pony Club” não fazia sucesso suficiente. Olha o drama: ela teve que voltar para casa, juntar uns trocados e só então retornar ao jogo em grande estilo, assinando com a Amusement Records, subsidiária da Island. Esse é o tipo de história que a gente só ouve nos bastidores das lendas, né?

Mas o que fez desse disco um hit, mesmo que tardio? Primeiro, temos que dar crédito à turnê com Olivia Rodrigo (porque só ser “aquela garotinha alternativa” não seria o suficiente) e o fato de Roan ter virado um furacão nos festivais como Coachella e Governors Ball. Isso sem contar o single “Good Luck, Babe!“, que deu um empurrãozinho final nas paradas e abriu caminho para que todo mundo finalmente percebesse o que os fãs já sabiam: Chappell Roan é o futuro.

Agora, vamos ao que interessa: a música. Da faixa de abertura, “Femininomenon” (já reparou que ela gosta de inventar palavras?), até a energética “Hot to Go!“, o álbum é uma montanha-russa de estilos e emoções. Ele passa do pop eletrizante para momentos mais contidos com uma naturalidade que só alguém com a segurança de Chappell consegue. E o refrão de “Super Graphic Ultra Modern Girl“? Se você não ficou boquiaberto quando ouviu pela primeira vez, tá na hora de rever seus conceitos de pop perfeito.

E é impossível não mencionar a leveza e o senso de humor que permeiam todo o álbum. Chappell aborda temas profundos – de aceitação pessoal a romances complicados – de uma forma que equilibra diversão e seriedade. A faixa “Casual“, por exemplo, não tem nada de sensual, mesmo quando ela descreve estar “ajoelhada no banco do passageiro enquanto você me faz um oral“. É isso mesmo, Chappell transforma essas cenas em algo casual (sem trocadilhos), mostrando que o importante é a conexão humana, e não a provocação.

Talvez o que mais emociona é a forma como ela traduz suas vivências enquanto mulher queer, sem filtros e sem receios. Em “Pink Pony Club“, ela narra o dilema de querer se libertar em um clube drag, mas ainda se sentir julgada pelos valores conservadores da sua família. O álbum, no fim das contas, é uma celebração da autenticidade, seja na forma de dançar com uma taça de vinho na mão ou na vulnerabilidade de navegar por relacionamentos falidos.

E se você acha que tudo isso é só para fazer barulho no nicho LGBTQIA+, pense de novo. Roan conseguiu falar diretamente para um público ainda mais amplo. E, nesse primeiro ano de lançamento, provou que sua música não é uma fase, mas sim uma nova era. De um “fracasso” inicial até chegar ao topo das paradas na Irlanda, Nova Zelândia e Reino Unido, Chappell Roan seguiu o próprio caminho, e que jornada divertida foi essa!

No final da festa “The Rise and Fall of a Midwest Princess” é um manifesto pop, uma dose de frescor num mar de fórmulas batidas, com direito a muito coração e alguns trocadilhos. E se você ainda não deu uma chance para esse disco, bem, boa sorte! Você está prestes a embarcar numa das viagens musicais mais ecléticas e vibrantes que surgiram no último ano.

Nota final: 90/100

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