Há algo de instintivamente cinematográfico no tempo. O movimento contínuo, o acúmulo de memórias, as narrativas que se entrelaçam entre gerações e espaços. “Colours of Time” abraça esse princípio com ambição e precisão, orquestrando uma obra que expande os limites do drama familiar ao mesmo tempo em que examina a própria ideia de legado. Legado emocional, histórico, estético.
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O que começa como um reencontro entre primos em torno de uma herança logo se transforma em uma travessia. O tempo deixa de ser linha e se torna espiral. Presente e passado se sobrepõem sem colidir, criando uma arquitetura narrativa que se sustenta com rigor. A montagem é cirúrgica ao organizar os blocos temporais como camadas vivas, nunca como simples flashbacks. A construção do tempo aqui é espaço emocional, não cronologia.
Klapisch conduz essa experiência com clareza e inquietude. Seu cinema nunca foi sobre zonas de conforto. E aqui, mais do que nunca, ele busca traduzir uma linguagem de época através da própria forma do filme. A fotografia investe numa granulação que remete à matéria do século XIX, mas com ritmo e sensibilidade modernos, como se os quadros se comportassem como daguerreótipos em movimento. É um trabalho que observa, mas também interpreta, que encena a memória como imagem viva e pulsante.
Existe um cuidado cirúrgico com o elenco, que se movimenta como um organismo coeso. Não há hierarquia entre protagonistas e coadjuvantes, tudo vibra em sinergia. A direção de atores extrai presença, e não performance, e essa diferença faz tudo ganhar espessura. O que se vê é uma família em tela, mas também um retrato coletivo do que o tempo esconde, revela, distorce e devolve. Mais que personagens, são fragmentos de identidade sendo costurados em carne, gesto e silêncio.
“Colours of Time” é uma ode à imagem como vestígio e como reconstrução, um filme que entende a arte como elo entre aquilo que fomos, aquilo que somos e aquilo que insistimos em esquecer. Tudo é memória em estado de criação. Tudo é cinema como linguagem da permanência.
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