Existe algo profundamente sedutor na atmosfera de “Cuckoo”. O tipo de sedução incômoda, que não convida, mas hipnotiza. A paisagem alpina, congelada entre o cartão-postal e o pesadelo, serve de pano de fundo para um thriller psicológico que flerta com o terror, com a fábula e com um tipo de esoterismo narrativo que nem sempre sabe o que quer. E é justamente aí que o filme ganha e perde forças: na sua tentativa constante de ser muitas coisas ao mesmo tempo.
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Com direção precisa e um visual que sabe o que está fazendo, “Cuckoo” começa como um pesadelo elegante e contido. O espectador acompanha Gretchen, adolescente deslocada que troca os Estados Unidos pelos Alpes alemães em um momento de ruptura familiar. Ali, dentro de uma arquitetura fria e uma rotina que beira o ritual, começa a notar ruídos, visões e a sensação de que tudo ali funciona por códigos que ela ainda não entendeu. É um filme que abraça o estranho com convicção e cria, desde o início, uma sensação de que algo está errado, mesmo quando tudo parece em silêncio.
Hunter Schafer entrega uma performance seca, direta, que contrasta com o jogo de sedução incômoda de Dan Stevens no papel do Sr. König. Ela é a âncora emocional da história, o elo com a realidade. Ele é o ponto de desestabilização, uma presença que não grita, mas corrompe lentamente. A relação entre os dois é menos um jogo de antagonismo explícito e mais um duelo de energia: o que ela tenta resistir, ele tenta absorver.
Mas “Cuckoo” tropeça em seu próprio mistério. A narrativa, que caminha por trilhas de tensão bem construídas, parece em dúvida sobre o quanto precisa explicar. Em vez de confiar na ambiguidade e deixar o desconforto crescer como mofo sob a pele do espectador, o roteiro às vezes escorrega em justificativas que enfraquecem o que antes era enigmático. Em outros momentos, faz o contrário: se recusa a explicar elementos importantes e deixa lacunas que não instigam, só frustram. A sensação é a de que faltou coragem para levar o mistério até as últimas consequências.
É um filme que tem ideias. Muitas. Algumas boas, outras menos. E isso, paradoxalmente, vira um obstáculo. A estilização começa a pesar, a espiral de cenas oníricas e atmosferas sinistras repete recursos que perdem potência com o tempo. Há momentos em que tudo o que se deseja é que o filme avance, que saia do ciclo de tensão acumulada e finalmente encontre o clímax que promete desde o início.
Ainda assim, “Cuckoo” não é um erro. Pelo contrário. É uma obra que merece atenção pelo que tenta construir: um terror psicológico que aposta menos no susto e mais na inquietação. Mesmo sem entregar todas as respostas, mesmo tropeçando no excesso de conceito, o filme tem uma identidade própria. Ele se impõe pela imagem, pelo som, pelo incômodo que provoca.
O resultado final pode até dividir opiniões, mas existe algo de corajoso em um filme que prefere deixar perguntas ecoando no escuro em vez de amarrar tudo com um lacinho explicativo. E se no fim das contas o espectador sair mais intrigado do que satisfeito, talvez esse tenha sido o verdadeiro plano desde o início.
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