“Funny Little Fears”, álbum de estreia de Damiano David, marca sua ruptura simbólica e sonora com o universo do Måneskin. O projeto, embora comercialmente orientado, não se sustenta como uma afirmação estética madura ou conceitualmente coesa. Em vez disso, oferece um conjunto de faixas majoritariamente eficazes em sua execução técnica, mas que carecem de singularidade autoral. Trata-se de um disco pop desenhado com precisão para agradar algoritmos, não para subverter expectativas.
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Produzido por nomes de peso como Labrinth, e com participações pontuais de Suki Waterhouse e d4vd, o álbum flerta com o indie pop norte-americano, ao mesmo tempo em que incorpora elementos de synthpop e soft rock com arranjos polidos, refrões amplificados por camadas vocais e texturas eletrônicas limpas. A direção de arte sonora é clara: explorar o potencial radiofônico da voz de Damiano, distanciando-a de suas inflexões mais agressivas e roucas que marcaram sua trajetória com o Måneskin. Aqui, o vocalista opta por um timbre mais delicado, modulando suas interpretações em falsetes e vibratos ligeiramente intencionais, que remetem tanto a Ben Howard quanto a Stephan Sanchez, embora sem a densidade emocional de nenhum dos dois.
O álbum é aberto por “Silverlines”, faixa produzida por Labrinth que estabelece o tom geral do projeto: um pop sofisticado na superfície, mas estruturalmente seguro demais. Há um claro esforço em capturar um sentimento de vulnerabilidade lírica, mas o resultado é previsível. “Born with a Broken Heart” se beneficia de uma produção mais atmosférica e de um refrão bem resolvido, com uso inteligente de silêncios e ambiências para criar impacto emocional. Ainda assim, repete fórmulas que se tornaram recorrentes no pop alternativo desde o final da década passada. “Next Summer”, por outro lado, entrega uma narrativa mais visualmente marcada, auxiliada por um videoclipe ambientado em uma prisão, mas que nunca atinge o peso dramático que se pretende.
É inegável que Damiano conhece seu instrumento vocal. Seu controle dinâmico e uso expressivo de imperfeições intencionais demonstram maturidade técnica. No entanto, essas decisões interpretativas frequentemente se sobrepõem a composições que não as justificam. A impressão é de um vocalista em busca de um repertório mais exigente, com potencial emocional maior do que o material oferece.
As letras, embora pontualmente bem escritas, raramente se libertam da retórica genérica sobre solidão, amor juvenil e desilusões suaves. Não há, em “Funny Little Fears”, um projeto lírico real. As canções funcionam isoladamente, mas não constroem uma trajetória narrativa ou emocional coesa. O título do disco sugere introspecção e ambiguidade, mas essas dimensões ficam restritas à superfície sem jamais serem desenvolvidas de fato.
É na produção que o álbum brilha com mais consistência. As escolhas timbrísticas são modernas, os beats são discretos e elegantes, e a mixagem permite que a voz de Damiano permaneça sempre em primeiro plano, mas sem sobrecarregar as faixas. Ainda assim, a sonoridade geral do disco se alinha perigosamente com a estética genérica do pop internacional de meados dos anos 2020. Não há surpresas. Não há desvios.
As colaborações funcionam mais como ornamentos do que como trocas criativas reais. Suki Waterhouse aparece com a previsibilidade de uma musa indie, enquanto d4vd repete maneirismos vocais que já consolidou em suas próprias faixas. O resultado são participações que soam corretas, mas inócuas.
No conjunto, “Funny Little Fears” é um álbum tecnicamente bem construído, com vocais convincentes e produção sofisticada, mas que padece da falta de uma identidade estética definida. Funciona como uma transição segura para Damiano David, projetando-o como um artista pop solo promissor. No entanto, a promessa que o disco deixa no ar precisa ser cumprida com mais ousadia e visão autoral em futuros trabalhos. Até lá, “Funny Little Fears” permanece como um retrato elegante de uma ambição ainda em formação.
Nota: 68/100
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