“Death of a Unicorn” propõe uma fábula macabra com contornos de sátira corporativa, misturando o absurdo do fantástico com a frieza das motivações humanas. Dirigido por Alex Scharfman, o longa parte de uma premissa inusitada, o atropelamento acidental de um unicórnio mágico por um pai e sua filha para conduzir o espectador por um terreno onde o capital explora o sagrado e o insólito se transforma em commodity. No entanto, embora ambicioso em conceito, o filme oscila em sua execução, entregando um resultado estético desigual e narrativamente instável.
O filme já estreou nos Estados Unidos. No Brasil, ainda não há previsão de estreia.
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A trama acompanha Elliot (Paul Rudd) e Ridley (Jenna Ortega), pai e filha a caminho de uma cúpula corporativa em meio à floresta, quando colidem com um unicórnio. Em vez de socorro ou comoção, a criatura é levada como artefato para o retiro de negócios onde está o CEO da indústria farmacêutica que Elliot representa, Dell Leopold (interpretado com caricatura). Quando a família Leopold descobre as propriedades milagrosas da carne e do chifre do animal, instala-se um experimento farmacobiológico improvisado, motivado por ganância, especulação científica e o tradicional desprezo corporativo pela ética.
Há um subtexto evidente que critica a elite econômica e sua tendência a extrair valor (e poder) de qualquer fonte, mesmo que ela ultrapasse os limites naturais ou morais. Essa crítica, por mais pertinente que seja, é por vezes diluída por um tom de humor que flerta com o cartunesco, sobretudo nas sequências em que os personagens se entregam ao delírio de consumir partes do unicórnio como substância curativa ou ente de poder. Will Poulter, em especial, entrega um personagem cômico e descontrolado, que literalmente “tritura o chifre” como se estivesse em um vício ritualístico, rendendo cenas de humor físico que arrancaram risos no cinema, ainda que, conceitualmente, esvaziem parte do impacto que o filme poderia provocar.
A direção de arte tenta evocar o universo de “Jurassic Park”, especialmente na ambientação da mansão onde ocorrem os experimentos. A arquitetura remete a estruturas clássicas da franquia de Spielberg, com átrios abertos e a sensação constante de que uma criatura mítica pode surgir a qualquer momento. Em alguns momentos, essa homenagem funciona como um dispositivo de familiaridade para o público. Em outros, soa derivativa, enfraquecendo a identidade do próprio filme. A sequência em que os unicórnios atacam em silêncio, remetendo diretamente à cena dos raptores na cozinha de Jurassic Park, é um exemplo claro dessa ambivalência: tecnicamente bem coreografada, mas esteticamente dependente de um legado alheio.
O grande problema técnico de “Death of a Unicorn” está na iluminação e nos efeitos visuais. Boa parte do filme se passa em cenas noturnas ou em espaços de pouca visibilidade. Isso compromete a clareza das ações e enfraquece o impacto visual de momentos que deveriam ser decisivos, principalmente nas sequências de ataque dos unicórnios. O CGI também apresenta inconsistências, sobretudo nos modelos das criaturas, que carecem de fluidez e textura convincente. A escolha de tornar os unicórnios adultos escuros, quase negros, agrava ainda mais os problemas de legibilidade visual.
Em contrapartida, a química entre Paul Rudd e Jenna Ortega é um dos pontos altos do filme. Eles estabelecem uma relação empática e verossímil, ancorando a narrativa em um vínculo emocional que contrabalança a histeria do entorno. Jenna Ortega, em especial, consegue traduzir com precisão o conflito entre deslumbramento e repulsa diante da criatura mágica, sustentando a dúvida ética do filme: o unicórnio deve ser protegido ou explorado?
As mortes são abundantes, embora pouco inventivas, com variações limitadas em torno do empalamento e do ataque direto. A violência gráfica é tratada com certa leveza, quase como um elemento visual cômico, mas perde força ao ser mal iluminada e repetitiva. Há, no entanto, momentos pontuais de acerto: uma mordida súbita, um corte inesperado, um timing cômico de horror que funciona em sua própria lógica absurda.
O desfecho é ambíguo e bem-vindo. Abre-se espaço para interpretações que extrapolam a lógica simplista do “bem contra o mal”. Os unicórnios são justiceiros cósmicos? Ou apenas defensores de sua espécie? Eles eliminam os humanos por retaliação ou por cautela? O final se recusa a oferecer respostas, optando por um encerramento enigmático e simbólico, que eleva o tom do filme e evita a fórmula convencional de redenção ou punição.
No fim, “Death of a Unicorn” é uma comédia de horror que aposta na sátira social, mas entrega uma experiência irregular. A ideia central é provocativa, o elenco é sólido e o subtexto é relevante, mas os problemas técnicos e as escolhas visuais limitam o alcance emocional e estético do projeto. Ainda assim, há algo de valioso em sua originalidade e em sua recusa a se curvar a estruturas narrativas previsíveis. O filme pode não ser memorável, mas é, ao menos, singular.
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