Existe uma velha escola do cinema de ação que parece ter ficado esquecida entre as explosões digitais e as coreografias engessadas por CGI. “Diablo” é um lembrete direto de que ainda há espaço para o físico, o suor, a porrada seca, a precisão coreográfica e o domínio absoluto do corpo como instrumento narrativo. Não importa se a trama é simples, porque aqui, o enredo é apenas um pano de fundo para o espetáculo que realmente interessa: o movimento.
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A direção de Ernesto Díaz Espinoza entende isso desde o primeiro minuto. O cineasta chileno, parceiro de longa data de Marko Zaror, entrega um filme que tem plena consciência do gênero em que pisa, mas recusa a superficialidade. Não há ilusão de profundidade onde não precisa haver, mas também não há descuido. O ritmo é bem calibrado, os planos são objetivos e a montagem respeita a integridade da ação. É raro ver um filme de pancadaria onde se enxerga cada golpe. Aqui, você não só vê, como sente.
Scott Adkins e Marko Zaror formam uma dupla afiada, brutal e carismática. O contraste entre o controle técnico de Adkins e o vigor expressivo de Zaror funciona com precisão cirúrgica. Enquanto um domina a técnica, o outro domina o exagero, e essa colisão de estilos dá ao filme uma energia quase operística. Há um prazer evidente em assistir dois especialistas executando seus talentos em tempo real, sem truques, sem atalhos, sem cortes covardes.
Tecnicamente, o filme é sólido. A fotografia de Niccolo De La Fere valoriza os espaços apertados e os ambientes urbanos com uma luz dura, seca, quase documental. A câmera está sempre posicionada para mostrar o corpo inteiro em ação, privilegiando a coreografia e recusando o caos visual. A edição, por sua vez, tem a inteligência de trabalhar a favor do ator e não da pressa. Tudo é limpo, coordenado e construído com clareza. Não há desperdício de tempo com firulas visuais, porque aqui o centro da cena é o impacto.
O que segura o filme emocionalmente é a dinâmica entre os protagonistas, ainda que a dramaturgia seja funcional. Existe química, existe propósito, e isso basta. O roteiro não tenta fazer o que não pode. Ele entrega o essencial, constrói um arco simples e eficiente, e se ocupa de sustentar o que o público veio buscar: adrenalina, técnica, suor e brutalidade coreografada com inteligência.
“Diablo” não reinventa nada, mas reafirma tudo o que ainda pode ser feito dentro de um cinema de ação físico, orgânico e autoral. É cinema de gênero assumido, sem vergonha de parecer velho, porque sabe onde está sua força. Não é nostalgia, é sobrevivência.
Se esse é o tipo de filme que continua sendo feito longe dos grandes estúdios, então que continue sendo feito por quem entende a gramática do corpo em movimento. E nisso, ninguém escreve melhor que Adkins e Zaror.
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