Tudo prometia um estouro. Um andróide de segurança hackeia o próprio código, descobre o livre-arbítrio, passa a odiar humanos e só quer assistir a suas novelas espaciais em paz. A premissa é forte, o personagem principal tem potencial e a fonte literária é premiada. Mas nada disso impede a série “Diários de um Robô-Assassino” de cair em um marasmo estrutural quase programado. O que deveria ser instigante, afiado, carregado de tensão e cinismo, se entrega a uma narrativa que tenta ser pop e existencial ao mesmo tempo, mas termina como mais um produto com cheiro de prateleira da Apple TV+.
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A escolha de colocar o robô como protagonista até poderia ser ousada, se o texto tivesse coragem de sustentar a provocação. Em vez disso, Murderbot acaba refém de um roteiro que não sabe dosar sarcasmo e humanidade, nem ritmo e reflexão. A sensação é de que alguém ligou o piloto automático e foi tomar um café.
Visualmente, há um esmero técnico. Os efeitos funcionam, os cenários futuristas cumprem seu papel e o design do universo tem consistência. Mas beleza, nesse caso, é só um verniz. Falta densidade, falta alma. O que deveria ser um mergulho nas camadas internas de um ser artificial em crise acaba se reduzindo a piadinhas sem graça, diálogos óbvios e uma estrutura que parece mais preocupada com o próximo clique no botão de autoplay do que com desenvolvimento dramático.
O protagonista, interpretado por Alexander Skarsgård, passa a maior parte do tempo reclamando de tudo e todos, como se fosse um adolescente entediado em uma aula de filosofia. A tal novela espacial que ele assiste dentro da série é, curiosamente, a parte mais viva da obra. Colorida, exagerada e quase paródica, ela revela que os criadores até sabiam brincar com o conceito de artificialidade, mas preferiram deixar essa criatividade confinada em um canto da tela.
A série falha em criar conexões emocionais reais, justamente em uma história que deveria explorar o impacto do contato entre máquina e sentimento. Os personagens humanos são funcionais, genéricos, e quase invisíveis. Há uma tentativa tímida de costurar um mistério de fundo, envolvendo traumas e conspirações entre andróides, mas tudo parece protocolar demais para gerar real impacto.
No fim das contas, “Diários de um Robô-Assassino” tem cara de algoritmo: bonita, funcional, mas previsível e sem pulsação. A ironia maior é que, em uma história sobre quebrar programações, quem assiste sente exatamente o oposto. Cada episódio é mais um passo dentro de uma fórmula onde o inesperado virou apenas decoração. O robô queria liberdade, mas a série se contentou com repetição.
“Diários de um Robô-Assassino”
Direção de Paul Weitz e Chris Weitz
Com Alexander Skarsgård, Noma Dumezweni, David Dastmalchian
Disponível em Apple TV+
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