Desde “Heresia” (2017), Djonga construiu uma trajetória marcada pela visceralidade e pela capacidade de traduzir a realidade social em narrativas líricas afiadas. “Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!” expande essa proposta, mas com uma sofisticação sonora e textual que evidencia a maturidade do artista. Se a fome antes era literal, agora ela transcende o material e se impõe como uma busca insaciável por evolução.
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Musicalmente, Djonga ousa. A produção do álbum se distancia da estética crua e purista do boom bap, que dominou sua sonoridade nos primeiros discos, e abraça uma gama mais ampla de influências. O flerte com jazz em “Ainda”, a incursão no drill em “Selvagem” e a presença de corais e elementos da MPB evocam o experimentalismo que já vinha sendo explorado por nomes como BK em “Icarus” e “Dire”. Essa abertura estilística é um dos grandes trunfos do disco, consolidando-o como um dos mais versáteis da carreira do rapper.
Liricamente, Djonga mantém a sagacidade que o tornou referência no rap nacional. As críticas sociais continuam afiadas, mas há uma densidade maior na abordagem de temas como religiosidade, ego e pertencimento. A forma como ele costura essas reflexões em faixas que transitam entre a agressividade e a introspecção demonstra uma curadoria cuidadosa do discurso, algo que diferencia o álbum de seus antecessores mais recentes, que dividiram opiniões entre os fãs.
Os feats, no entanto, surgem como um ponto de debate. A participação de nomes consagrados como Milton Nascimento, Samuel Rosa e Los Hermanos gerou expectativas, mas sua execução ficou aquém do potencial. Diferentemente de colaborações anteriores que elevaram a experiência musical de Djonga, aqui esses convidados ocupam um papel mais discreto, com inserções pontuais que não agregam tanto impacto quanto se esperava. Em contrapartida, RT Mallone se destaca, entregando uma das participações mais marcantes do álbum.
O impacto de “Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!” se estende além do rap. A fusão de estilos, a riqueza nas escolhas instrumentais e a densidade lírica posicionam Djonga em um patamar que transcende o gênero, tornando o disco uma peça relevante dentro da música brasileira. A comparação com os trabalhos recentes de BK faz sentido, mas o mineiro imprime uma identidade própria ao projeto, solidificando sua importância na cena.
Se os últimos álbuns de Djonga não tiveram a mesma recepção calorosa de seus primeiros trabalhos, este novo projeto representa uma redenção. A fome que o move não é mais apenas a do garoto que tentava provar seu valor no rap; é a de um artista consolidado que se recusa a estagnar. O resultado é um disco que reafirma sua grandeza e amplia seu legado.
Nota final: 78/100
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