Existe um tipo de filme que nos lembra da infância, dos sábados preguiçosos diante da TV, quando o mundo parecia caber dentro das cores vibrantes de um desenho animado. “Dora e a Busca por Sol Dourado” faz exatamente isso, mas tem a coragem de sair do traço para ganhar carne, osso, suor e lama de verdade. É o tipo de história que abraça com gosto o espírito clássico dos filmes de aventura, com templos caindo aos pedaços, armadilhas cheias de insetos nojentos e uma protagonista que tem mais coragem do que juízo.
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Inspirado pela lendária animação “Dora, a Aventureira”, o longa do Paramount+ não tenta reinventar a roda. Ao contrário, gira com força sobre o que já conhecemos, mas adiciona uma energia quase ingênua que faz tudo parecer fresco de novo. É um filme que poderia facilmente escorregar no ridículo, mas escapa graças a um elenco carismático e um roteiro que entende o valor das pequenas lições de moral no meio do caos.
A jovem Dora, agora vivida por Samantha Lorraine, carrega o mesmo brilho nos olhos da menininha que perguntava para a tela se você conseguia encontrar o caminho. Mas aqui, esse brilho encontra novos dilemas. Quando perde o Mapa, símbolo máximo da sua infância, Dora é obrigada a aprender a confiar no próprio instinto, algo muito maior do que apenas seguir linhas coloridas desenhadas no papel. É bonito de ver, porque transforma o GPS infantil em metáfora pura: não adianta ter o caminho se você não sabe para onde o seu coração quer ir.
O filme faz isso enquanto mergulha numa jornada que mistura lendas incas, tesouros que realizam desejos e a necessidade de entender que, às vezes, o maior prêmio é descobrir quem você é. “Dora e a Busca por Sol Dourado” tem armadilhas que fariam Indiana Jones suar frio e trilhas pela selva colombiana que entregam uma fisicalidade quase rara no cinema voltado para famílias hoje. É possível sentir a umidade das folhas, o peso das cordas nos ombros dos personagens e o cheiro imaginado da terra molhada depois de dias de trilha.
Claro que o filme não sobrevive só disso. O humor é generoso, a começar pela interação de Dora com Boots, o macaco falante dublado por Gabriel Iglesias, que só ela entende. O roteiro tem inteligência suficiente para tratar esses elementos absurdos com naturalidade, sem usar o humor como muleta para zombar dos personagens. Quando Dora fala com Boots, a gente compra a ideia e segue junto, como quem decide entrar de cabeça num livro infantil ilustrado.
Tem também um toque juvenil que funciona bem: o histórico mal resolvido entre Diego (Jacob Rodriguez) e Naiya (Mariana Garzón Toro) coloca na tela um flerte desajeitado que lembra romances de matinê, com direito a indiretas, ciúmes e aquele climão de quem já ghosteou e foi ghosteado. É um tempero que ajuda a manter a leveza entre uma caverna prestes a desabar e outra.
Mas o maior trunfo talvez esteja no resgate da personagem Camila (Daniela Pineda), que aparece primeiro como um ídolo televisivo da infância de Dora e depois surge amargurada, cansada das próprias aventuras. O diálogo entre as duas é a essência do filme: quando Dora diz “eu posso ter perdido meu mapa, mas você perdeu sua bússola”, o longa coloca em palavras simples o dilema de quem cresce e esquece por que começou a sonhar. É um lembrete poderoso, embalado por um ritmo que não deixa o público ficar muito tempo pensando, já que logo chega outra sequência de correrias na floresta ou enigmas para decifrar.
Visualmente, “Dora e a Busca por Sol Dourado” faz um ótimo trabalho ao misturar cenários reais, filmados na Colômbia, com efeitos digitais que, felizmente, não dominam a tela. Boots e o sorrateiro Swiper (o raposinha que pertence à Camila) aparecem como parte do mundo, e não substitutos baratos para ele. A selva respira, as cavernas parecem frias e úmidas, e isso ajuda o filme a manter uma certa dignidade visual que falta em tanta produção familiar por aí.
Por fim, o longa também não tem medo de brincar com o legado bilíngue de Dora. O inglês entrecortado por palavras em espanhol como “escucha” e “vámonos” surge de forma natural, celebrando sem didatismo uma identidade cultural que é o coração dessa história desde o desenho original.
“Dora e a Busca por Sol Dourado” não é um filme que vai mudar o cinema, mas é o tipo de aventura que acende aquela faísca que faz a gente querer amarrar os tênis e sair explorando o quintal como se fosse o meio da Amazônia. É um lembrete de que perder o mapa às vezes é o melhor jeito de encontrar o que importa.
Dora e a Busca por Sol Dourado (2025)
Direção de Alberto Belli
Elenco: Samantha Lorraine, Jacob Rodriguez, Gabriel Iglesias, Daniella Pineda
Disponível em: Paramount+
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