Poucos filmes têm a audácia de encarar a miséria humana sem oferecer alívios reconfortantes ou redenções fáceis. “Dying: A Última Sinfonia” se deleita em sua brutalidade emocional, entregando um retrato devastador da decadência física, do isolamento familiar e da futilidade das tentativas humanas de encontrar sentido na dor. Dirigido e roteirizado por Matthias Glasner, o longa desafia o espectador com sua frieza cirúrgica e sua abordagem desprovida de concessões, ao mesmo tempo em que injeta um humor cáustico e inesperado, quase como um reflexo perverso da nossa tendência de rir para não desmoronar.
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
A narrativa se estrutura a partir de Lissy Lunies (Corinna Harfouch), uma mulher de setenta anos cujo corpo começa a falhar em um ritmo acelerado diabetes, câncer, insuficiência renal e cegueira iminente são apenas algumas das condições que tornam a morte uma questão de “quando”, e não “se”. Seu marido, já incapaz de reconhecê-la devido à demência, está internado em uma casa de repouso. Com isso, ela experimenta um curto lampejo de liberdade, apenas para ser rapidamente confrontada pela deterioração inevitável.
Ao seu redor orbitam personagens igualmente despedaçados: Tom (Lars Eidinger), o filho maestro obcecado em compor uma sinfonia chamada “Dying”, enquanto lida com sua própria incapacidade emocional; Ellen (Lilith Stangenberg), a filha alcoólatra presa em um relacionamento tóxico; Liv (Anna Bederke), a ex-namorada de Tom que o pressiona a assumir a paternidade de um filho que não é dele; e Bernard (Robert Gwisdek), amigo depressivo que compartilha da mesma obsessão mórbida com a morte. Nenhum deles está imune à espiral de dor e frustração que permeia cada canto do filme.
O que torna “Dying: A Última Sinfonia” tão assombroso é sua recusa em aliviar o peso da existência. Glasner não busca redenção para seus personagens e tampouco fornece ao espectador qualquer ilusão de que haverá um final catártico. Cada cena parece um golpe de bisturi na carne exposta da realidade, e uma das sequências mais marcantes um jantar onde mãe e filho se digladiam em uma troca de acusações ferinas é um dos momentos mais desconfortáveis e devastadores do cinema recente.
A trilha sonora, que gira em torno da composição de Tom, funciona como uma metáfora para a própria estrutura do filme: uma sinfonia sobre a morte que nunca se resolve completamente, uma composição dissonante que ecoa como um lamento sem fim. Glasner orquestra sua narrativa como uma peça musical brutalista, onde os silêncios falam tanto quanto os diálogos e onde cada nota é impregnada de desespero e resignação.
Apesar de sua natureza esmagadora, há um fio de humor negro correndo pela narrativa não um humor que proporciona alívio, mas sim um riso amargo e ácido que apenas reforça a fragilidade da existência. A comédia aqui nasce do absurdo da vida e da morte, e Glasner parece saber que, diante do inevitável, rir pode ser o último mecanismo de defesa que nos resta.
Ao longo de três horas extenuantes, o filme conduz o espectador por um túnel emocional sem saídas, onde cada decisão errada de seus personagens é apenas um reflexo de sua humanidade falha. No fim, não há grandes epifanias, apenas o reconhecimento de que a vida pode ser um fardo insuportável e que, às vezes, não há nada a se fazer além de suportá-l ou não.
É um filme para quem tem estômago para encarar a escuridão sem medo e, ao final, permanecer sentado, em silêncio, absorvendo o impacto do que acabou de ver. Matthias Glasner cria um épico da ruína emocional, um estudo sobre a fragilidade humana que não busca respostas, apenas expõe as feridas abertas da existência.
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