“Elio” é o tipo de filme que parte de uma ideia promissora, mas não consegue explorar o próprio potencial com personalidade. Há uma diferença entre falar sobre identidade e realmente construir uma narrativa com identidade. E é exatamente nesse ponto que o novo projeto da Pixar se perde. A impressão que fica é a de um roteiro empacotado para cumprir metas de representatividade, estrutura emocional e curvas dramáticas, mas sem que isso ganhe forma viva ou brilho autoral em cena.
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A proposta é encantadora na superfície: uma criança solitária, criativa e encantada pelo espaço é, por acidente, transportada a um universo intergaláctico e confundida com o representante da Terra. A partir daí, se abre a possibilidade para um mergulho em descobertas, pertencimento e a clássica jornada de amadurecimento que a Pixar sabe fazer melhor do que ninguém. Mas saber fazer não é o mesmo que repetir a fórmula. E o que se vê aqui é um filme preso na fórmula, em vez de reinventá-la.
Visualmente, há doçura e inventividade, mas sem ousadia. O contraste entre personagens estilizados e cenários quase realistas, que já foi aposta interessante em outros projetos do estúdio, aqui soa descompassado, como se o filme não soubesse direito qual estética assumir. A construção de mundo em “Elio” é mais simpática do que impressionante, e a viagem cósmica que deveria despertar curiosidade termina refém de uma estética mais decorativa do que imersiva.
A sensação de previsibilidade também pesa. É um daqueles casos em que o trailer antecipa praticamente tudo, e o que sobra na sala de cinema é a espera por uma reviravolta que nunca vem. Em vez disso, o filme caminha exatamente por onde se espera que ele vá, sem subverter expectativas, sem tensionar suas próprias ideias, e sem adicionar camadas que deem peso ao que está sendo contado. Tudo soa raso, como se o universo inteiro criado para o filme existisse apenas para reforçar uma única mensagem.
E aqui está outro ponto importante: a mensagem não basta quando a estrutura não a sustenta. Existe uma tentativa honesta de trabalhar temas como pertencimento, autoaceitação e a beleza de ser diferente. Mas essa tentativa se dilui numa narrativa que não tem força dramática nem ritmo para fazer essas ideias ganharem profundidade. Fica o esqueleto do discurso, mas não a emoção que o deveria impulsionar. O filme toca em feridas reais, mas sem apertar, sem provocar, sem se comprometer.
É inevitável lembrar que estamos falando da Pixar. Um estúdio que criou obras-primas emocionais com bichos falantes, robôs solitários e memórias personificadas. Quando um filme como “Elio” vem à tona, a decepção não é porque ele é ruim, mas porque ele poderia ser muito mais. Ele é esquecível porque se contenta em ser seguro, e isso, para um estúdio que já desafiou gerações com animações capazes de dialogar com infância e vida adulta simultaneamente, é pouco.
No fim das contas, “Elio” acerta em alguns pequenos momentos de ternura, principalmente quando toca na relação entre mãe e filho. Há fragmentos sinceros de emoção, como a Pixar costuma entregar, mas que não se conectam como deveriam. O resultado é um filme simpático, mas sem impacto. Uma viagem ao espaço com pouca gravidade emocional.
Para uma geração acostumada com animações que expandem o olhar e mexem com o que há de mais sensível na experiência humana, “Elio” soa como um lembrete de que até os gigantes tropeçam quando abandonam o risco e se acomodam no conforto das fórmulas.
O espaço é vasto, cheio de possibilidades, metáforas e símbolos. Mas aqui, a galáxia parece pequena demais para tanta expectativa.
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