Se tem algo que Jane Schoenbrun entende, é como deixar a gente inquieto. Depois de “We’re All Going to the World’s Fair“, ela retorna com “Eu Vi o Brilho da TV” e, honestamente, é como se ela pegasse todas as nossas crises mais íntimas, jogasse no liquidificador e entregasse um coquetel de ansiedade e pavor, tudo com uma pitada de nostalgia televisiva.

Estrelado por Justice Smith e Brigette Lundy-Paine, o filme transforma uma história aparentemente simples de dois adolescentes fanáticos por um programa de TV em uma espiral perturbadora que nos faz questionar o que é real e o que é apenas uma distorção brilhante de uma tela.
O ponto alto do filme é o desenvolvimento dos personagens, que vão de fãs devotos a indivíduos à beira de um colapso existencial. O roteiro de Schoenbrun captura com precisão o que significa se refugiar na ficção quando o mundo real parece opressor, especialmente para aqueles que lidam com questões de identidade. A direção usa o horror não como uma ferramenta de sustos baratos, mas como um meio para refletir as angústias e medos de seus protagonistas.
Visualmente, o filme é impactante, com cores vibrantes e uma atmosfera surreal que cria uma constante sensação de desconforto. As cenas de terror, inspiradas por mestres como David Lynch, são conduzidas de maneira sutil, mas potente, levando o público a momentos de pura tensão. Justice Smith e Brigette Lundy-Paine entregam performances autênticas, mostrando com precisão as nuances emocionais de seus personagens, e o elenco de apoio, incluindo nomes como Helena Howard e Fred Durst, complementa bem a narrativa.
Schoenbrun cria uma metáfora poderosa sobre escapismo e as consequências de se perder em uma realidade fictícia. Embora alguns críticos vejam o filme como uma reflexão sobre o fandom, há camadas mais profundas a serem exploradas, especialmente relacionadas à luta por aceitação e identidade. “Eu Vi o Brilho da TV” é uma análise perspicaz do impacto da mídia nas nossas vidas, fazendo o espectador questionar o quanto da nossa realidade é moldada pelo que consumimos.
No fim a obra não se trata de sustos fáceis, mas de um terror psicológico que lentamente corrói a mente, como uma televisão que, ao brilhar, parece apagar as fronteiras do real. Para quem busca um filme de terror provocativo e visualmente fascinante, Jane Schoenbrun entrega mais uma vez uma experiência intensa e reflexiva.