“Feliz Assalto!” chega à Netflix com a ambição de ser aquela comédia natalina que promete leveza, charme e algum tipo de faísca emocional em meio às luzes piscando e aos dilemas de fim de ano. Só que o filme rapidamente se revela um experimento curioso: tenta funcionar como romance, flerta com o formato de aventura criminosa, mira no espírito festivo da temporada e termina entregue a uma indecisão narrativa que compromete a própria identidade. É um longa que nasce querendo ser várias coisas ao mesmo tempo e acaba sem firmeza em nenhuma delas.

O roteiro parte de um conflito promissor. Sophia trabalha demais e recebe de menos, Nick oferece serviço e recebe zero, Sterling acumula privilégios enquanto colhe desafetos. A tríade tinha combustível suficiente para um comentário social afiado sobre trabalho precarizado e relações de poder, especialmente porque a trama se passa dentro de uma loja de departamento que simboliza tanto o consumo frenético quanto sua própria desigualdade estrutural. Em tese, havia espaço para transformar esse contexto em crítica, caos e personalidade. O filme opta por algo mais morno, sem aprofundar suas promessas.
Sophia e Nick formam o centro emocional da história, só que a relação entre eles se desenvolve sem tensão verdadeira. Falta ritmo, falta pulsação, falta aquela química que transforma dois personagens feridos em uma dupla pela qual o público torce de maneira instintiva. O romance segue uma curva previsível e o assalto, que deveria trazer adrenalina, carece de urgência. O resultado é um híbrido que tenta equilibrar doçura e risco, porém escorrega nos dois.
Visualmente, “Feliz Assalto!” entrega um acabamento competente, mas nada se destaca além do básico. A fotografia se mantém presa à função, evitando qualquer ousadia estética que pudesse reforçar a atmosfera de comédia natalina com tintas mais autorais. Isso surpreende porque a direção de Michael Fimognari normalmente carrega um olhar sensível para textura, cor e clima. Aqui, sua assinatura se dilui em uma estética genérica, quase publicitária, que amortece o pouco de personalidade que o longa ainda tenta preservar.
Lucy Punch e Peter Serafinowicz parecem divertir-se com a proposta e ajudam a criar pequenas ilhas de irreverência em um mar que insiste em permanecer calmo demais. E o roteiro apresenta reviravoltas que, mesmo sem grande impacto, sugerem que havia a intenção de escapar do formato engessado das comédias natalinas de catálogo. Só que intenção, isoladamente, não sustenta um filme.
No fim, “Feliz Assalto!” funciona como aquele presente de amigo secreto que vem numa embalagem bonita, cria expectativa por alguns segundos e depois revela algo simpático, mas rapidamente esquecível. É um filme que tenta conquistar pelo espírito das festas e pela leveza do plano mirabolante, porém se perde na própria falta de energia. Ainda assim, dentro do universo das produções festivas que dominam o streaming em dezembro, encontra um espaço curioso: serve como companhia despretensiosa para quem busca enfeitar o fundo da sala enquanto o celular ocupa o primeiro plano.
“Feliz Assalto!”
Direção: Michael Fimognari
Roteiro: Abby McDonald
Elenco: Olivia Holt, Connor Swindells, Lucy Punch
Disponível em: Netflix
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