“Freaky Tales” é uma colagem ousada de estilos, gêneros e atmosferas. Ambientado na Oakland de 1987, o longa dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck apresenta quatro histórias entrelaçadas que exploram temas como lealdade, violência, cultura urbana, música e identidade comunitária com um espírito anárquico e, ao mesmo tempo, profundamente autoral. A produção flerta com a estética de quadrinhos, insere elementos metalinguísticos e subverte estruturas narrativas convencionais, criando um híbrido entre sátira, nostalgia e ação estilizada. A execução, embora criativa e tecnicamente ambiciosa, revela desequilíbrios estruturais que enfraquecem a coesão do todo.
O filme já estreou nos Estados Unidos. No Brasil, ainda não há previsão de estreia.
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A proposta de capítulos autônomos que se entrelaçam tem seu valor, e de fato ecoa formatos já bem-sucedidos, como “The Last Duel”, de Ridley Scott, ou “Pulp Fiction”, de Tarantino. No entanto, em “Freaky Tales”, a construção episódica compromete o envolvimento emocional com a narrativa geral. Os segmentos têm tons e ritmos muito distintos, o que gera rupturas narrativas perceptíveis. Há força individual em cada capítulo, mas a transição entre eles não é sempre orgânica, o que dilui o impacto dramático e confunde o espectador na tentativa de construir um arco temático comum.
Apesar disso, o elenco consegue manter o filme vibrante. Pedro Pascal entrega um desempenho contido, mas magnético, como um executor em busca de redenção. Ben Mendelsohn está eficaz como um detetive corrompido, e Dominique Thorne confirma seu talento ao incorporar uma rapper emergente na cena musical local. Jay Ellis, por sua vez, protagoniza o segmento mais dinâmico do filme com uma performance física inesperada e expressiva. Seu papel, baseado na figura real do ex-jogador Eric “Sleepy” Floyd, proporciona a sequência de ação mais explosiva do longa.
Há também aparições marcantes, como a de Normani e a participação póstuma de Angus Cloud, além de um ator surpresa não creditado nos materiais promocionais, o que contribui para o caráter de descoberta do filme. A presença do rapper e produtor Too Short, uma figura icônica da cena musical de Oakland, confere autenticidade e conecta o longa diretamente à paisagem cultural da cidade.
Visualmente, “Freaky Tales” é onde o filme mais se destaca. A direção de arte reconstrói a Oakland dos anos 1980 com um cuidado estilizado, enquanto a fotografia aposta em filtros retrô, texturas granuladas e interferências de película, tudo propositalmente inserido para reforçar o clima nostálgico. Há momentos em que o filme parece uma fusão entre “The Warriors” e uma graphic novel da Image Comics. Efeitos visuais propositalmente exagerados, como os balões de onomatopeia durante as lutas, servem para abraçar a estética de quadrinhos sem ironia. O resultado é um visual que celebra o artifício e enaltece o absurdo com confiança criativa.
No campo da ação, o filme transita entre o cômico e o surreal. A primeira sequência pode causar estranheza pela qualidade dos efeitos visuais, que parecem rudimentares à primeira vista, mas se revelam uma escolha estética coerente com a proposta do filme: rejeitar o realismo em favor do espetáculo exagerado. Quando abraça essa lógica por completo, principalmente no capítulo final, o longa atinge seu ápice em termos de ritmo e energia.
Entretanto, a fragmentação da narrativa impede o filme de alcançar um impacto mais duradouro. Embora as histórias eventualmente se conectem, a construção não favorece a progressão dramática nem a construção emocional de personagens. Há mais fascínio visual e estilização do que desenvolvimento temático consistente. O que poderia ser um épico urbano multigeracional acaba se tornando uma colcha de retalhos com momentos brilhantes, mas desconectados entre si.
Ainda assim, “Freaky Tales” é uma obra que merece atenção, especialmente por sua abordagem visual única, o frescor de seu elenco e a tentativa genuína de capturar o espírito de uma época e de uma cidade. É um filme que celebra a identidade cultural de Oakland, o cinema como linguagem pop e o poder do absurdo como força estética. Pode não agradar a todos, e sua estrutura certamente exigirá mais paciência e abertura do público, mas há valor inegável na ousadia do projeto.
“Freaky Tales” é mais um experimento estético do que uma narrativa fechada. Um filme que se apoia em sua forma mais do que em seu conteúdo, mas que, ainda assim, consegue deixar uma impressão. É cinema que desafia formatos e flerta com o risco criativo. Falho em sua construção narrativa, mas vigoroso na forma como se expressa.
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