Chegar à terceira temporada de “Fundação” é quase um teste de resistência. Se nas primeiras fases a série já exigia atenção absoluta, agora ela parece exigir também um diploma em astrofísica, outro em geopolítica galáctica e uma fé inabalável em narrativas fragmentadas. O universo baseado nas obras de Isaac Asimov segue grandioso, intricado, visualmente impactante e absurdamente denso. Mas, ao contrário do que se poderia esperar, não ficou mais acessível. Apenas mais barulhento.
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O que impressiona de cara é o escopo. São planetas, facções, conselhos, herdeiros, inteligências artificiais, conflitos comerciais, crises matemáticas e líderes clonados tentando manter o império de pé. A série abraça a complexidade com força, mas esquece que o público também precisa respirar. Há tanta informação, tanto personagem, tanta localização diferente que até um mapa mental falharia. E, mesmo com o aumento das cenas de ação, as engrenagens narrativas continuam pesadas, como se cada sequência precisasse justificar sua própria existência em um tratado acadêmico.
O problema central é esse: “Fundação” parece mais preocupada em parecer inteligente do que em ser envolvente. A estética é impecável, os efeitos visuais beiram o sublime, mas o conteúdo emocional é rarefeito, quase nulo. Personagens vão e vêm, pulam no tempo e no espaço, discutem em jargão técnico, conspiram em corredores dourados e, mesmo assim, é difícil se importar com o que está em jogo.
Mesmo com atuações sólidas, principalmente de Jared Harris como o lendário Hari Seldon e de Lee Pace como Brother Day, o roteiro continua distante, frio, blindado. As ideias por trás da série são fascinantes: previsões matemáticas que moldam civilizações, dilemas éticos diante do livre-arbítrio, colapsos de impérios como eventos inevitáveis da história humana. Mas o discurso raramente se traduz em experiência dramática viva. A sensação é de estar vendo um monumento sendo construído. Gigante, mas impessoal.
Há, claro, quem vá se deliciar com essa grandiosidade toda. Para os fãs hardcore de ficção científica, “Fundação” ainda é uma espécie de banquete cerebral. Mas para quem busca conexão, ritmo e tensão dramática, essa terceira temporada oferece mais perguntas do que consequências reais. A introdução do personagem The Mule, com seus poderes mentais quase divinos, até sugere uma virada promissora, mas o impacto se perde em meio a tantos diálogos expositivos e saltos narrativos.
A estrutura da temporada continua apostando em uma narrativa de múltiplas frentes, sempre costurada pela narração de Gaal, que serve como guia espiritual da confusão. Só que até ela desaparece por boa parte do episódio inicial, deixando o espectador à deriva. É uma série que exige investimento, paciência e uma certa tolerância com a ideia de que nem tudo vai fazer sentido de imediato ou sequer algum dia.
Ainda assim, é difícil ignorar a ambição. Poucas séries tentam tanto, arriscam tanto, constroem um universo tão detalhado. “Fundação” é um épico sci-fi que recusa a mediocridade, mas também recusa a simplicidade. E nesse equilíbrio precário entre genialidade e autoindulgência, ela entrega uma temporada que impressiona, mas não necessariamente emociona.
“Fundação“
Criado por David S. Goyer e Josh Friedman
Com Jared Harris, Lee Pace, Lou Llobell
Disponível em Apple TV+, com novos episódios toda sexta-feira
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