Algumas continuações carregam a expectativa de uma expansão natural do universo original, quase como um rio que encontra um curso mais amplo sem perder o próprio sentido. “Furioza 2” escolhe outro caminho. A produção tenta transformar um conjunto de personagens marcados pela brutalidade em um épico de ascensão criminosa que atravessa fronteiras físicas e morais, mas se perde na própria ambição. O resultado é um filme que busca fôlego em todos os cantos, embora entregue um panorama fragmentado, ruidoso e sem direção clara.

A história acompanha Golden, agora à frente da gangue Furioza. Ele tenta ampliar influência, território e domínio, algo que o filme apresenta como missão de vida, quase um ritual de sucessão selvagem. A jornada leva o personagem a territórios distantes, mercados subterrâneos e alianças instáveis, sempre com o eco da morte do líder anterior pairando sobre cada decisão. Há um mundo de possibilidades aqui, e existe até um esforço para transformar o protagonista em figura trágica, porém o filme raramente sustenta a densidade que promete.
O maior problema surge quando a narrativa se estende por quase três horas e exibe suas falhas como cicatrizes abertas. A montagem opera como colagem de cenas que parecem disputar espaço, sem costura, coerência ou ritmo. Vários arcos começam, se perdem e desaparecem sem conclusão. É cinema que tenta parecer amplo, mas cresce para os lados em vez de crescer para dentro.
Golden, que funcionava como força secundária expressiva na primeira parte, ganha posição central sem a profundidade necessária. O personagem tenta ocupar esse protagonismo, mas aparece apagado, pouco articulado e sem a força dramática que o filme insiste em anunciar. Os coadjuvantes, que poderiam oferecer contrapontos ricos, surgem como vultos de ideias desperdiçadas. Dzika, Dawid e Eli carregam potenciais inteiros, mas viram engrenagens esquecidas entre sequências de violência, drogas e falsos dilemas morais.
A trilha sonora acompanha essa falta de coesão. A escolha de músicas empurra o espectador para atmosferas que nunca dialogam entre si. Organka, Chada e Go_A dentro da mesma estrutura criam ruído emocional, não contraste criativo. É quase como assistir três filmes sobrepostas em uma só projeção, cada um competindo por protagonismo sonoro.
Existe ainda um tema recorrente no universo das gangues retratado aqui: a ideia de honra, lealdade, patriotismo e códigos internos que supostamente organizam aquele caos. A ironia surge quando o próprio filme revela que esses discursos servem mais como vitrines do que como valores reais. É vazio que tenta parecer ideologia, algo que a produção repete sem desconstruir.
Ainda assim, existe quem enxergue esse projeto por outro ângulo. Parte do público defende Golden como figura trágica, destaca a performance de Mateusz Damiecki e enxerga no filme a tentativa de explorar o universo criminoso para além da cultura dos ultras. Essa visão, embora válida, aponta para uma intenção que o filme tenta alcançar, mas raramente sustenta com consistência estruturada.
“Furioza 2” é cinema que corre atrás da própria ambição e se perde no caminho. Tenta elevar os personagens ao tamanho de uma saga, mas encontra mais ruído do que profundidade. É ruidoso, agressivo, espalhado. Sobram músculos, falta precisão.
“Furioza 2”
Direção: Cyprian T. Olencki
Elenco: Mateusz Damiecki, Szymon Bobrowski, Łukasz Simlat
Disponível em: Netflix
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