“Hell of a Summer” é uma tentativa cômica e autorreferente de reviver o subgênero slasher sob a ótica da geração Z. Dirigido, roteirizado e estrelado por Finn Wolfhard e Billy Bryk, o longa assume com clareza sua proposta: um terror de verão descompromissado, exagerado e guiado por um senso de humor que oscila entre o irônico e o abertamente escrachado. O que se vê em tela é um projeto de estreia que tenta equilibrar nostalgia, sátira e um tom juvenil de autorrealização, mas que também revela as limitações típicas de um filme conduzido por cineastas inexperientes.
O filme já estreou nos Estados Unidos. No Brasil, ainda não há previsão de estreia.
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O roteiro, com menos de 90 minutos de duração, segue uma fórmula bastante conhecida: um grupo de adolescentes chega antes do início da temporada de verão ao acampamento Pineway, onde eventos violentos começam a ocorrer, revelando a presença de um assassino mascarado. A trama é funcional, mas jamais escapa de seus clichês. A estrutura narrativa é tão previsível quanto sua ambientação: floresta isolada, personagens arquetípicos, mortes misteriosas e um jogo de suspeitas que culmina em uma reviravolta. A diferença, aqui, está no tom debochado que permeia toda a construção dramática. O filme não tenta reinventar o gênero, mas o utiliza como playground cômico e referencial.
Visualmente, “Hell of a Summer” não inova, mas exibe certa competência técnica. A fotografia é convencional, sem grandes momentos de destaque, e a direção é funcional, mas carece de personalidade. Em diversas cenas, o ritmo da comédia se perde na execução da mise-en-scène: pausas para piadas que não têm timing eficaz, enquadramentos pouco inventivos e transições que se arrastam sem necessidade. A falta de domínio cênico é evidente, e o resultado final revela a urgência de uma supervisão mais experiente na pós-produção.
No entanto, há méritos pontuais. O texto demonstra consciência de seus limites, e os diretores conseguem estabelecer um tom unificado que mistura referências a “Sexta-Feira 13”, “Pânico”, “Cabin in the Woods” e outros clássicos do gênero com comentários leves sobre juventude, masculinidade tola e estereótipos sociais. Há momentos em que a sátira funciona com naturalidade, como no trecho em que os personagens ironizam alergias e modismos alimentares. São esses instantes de identificação cultural que revelam a sensibilidade geracional por trás da produção.
O elenco, por sua vez, opera em registros irregulares. Fred Hechinger se destaca como o conselheiro socialmente desajustado que, aos poucos, conquista empatia do público. Sua atuação é caricatural, mas construída com precisão e senso de timing. Billy Bryk entrega as melhores piadas do filme, exibindo um talento promissor para a comédia de situação. Já Wolfhard, embora demonstre domínio de cena, falha em capturar nuances mais interessantes para seu personagem, operando em um tom monotônico que limita sua performance.
A maior fragilidade da obra está na condução do horror em si. Grande parte das mortes ocorre fora de cena, o que reduz o impacto visual e subverte negativamente a proposta de um slasher gore. O filme hesita em abraçar o absurdo e a violência gráfica que definem o gênero. A construção da tensão é mínima, e o segundo ato sofre com um esvaziamento narrativo que compromete o ritmo. A reviravolta final, embora tecnicamente surpreendente, carece de construção dramática sólida, funcionando mais como um aceno metalinguístico do que como uma revelação genuinamente eficaz.
É relevante destacar que “Hell of a Summer” não tenta ser um clássico do horror, e essa honestidade estilística é parte do seu charme. Para um público mais jovem, o longa pode se tornar um pequeno “culto geracional”, repleto de referências internalizadas e uma linguagem emocional acessível. Para outros espectadores, pode soar como um exercício superficial de jovens privilegiados testando a estética indie sem profundidade temática ou domínio técnico.
“Hell of a Summer” não se propõe a ser complexo, ousado ou inovador. Ele é, acima de tudo, um exercício de estilo juvenil: irregular, limitado, mas também sincero e até cativante em sua energia caótica. Para quem busca um slasher leve, recheado de humor autorreferente e com um apelo nostálgico aos anos 80, a experiência pode ser satisfatória. Para quem espera uma nova visão para o gênero ou uma crítica mais afiada, o filme deixa a desejar. Ainda assim, como estreia, é promissor, e abre portas para um desenvolvimento mais sólido no futuro.
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