rue crimes são um fenômeno da era do streaming, mas poucos conseguem se diferenciar em meio a um mar de produções que exploram assassinatos e mistérios de forma quase procedural. “Homicídio nos EUA: Gabby Petito” a série documental da Netflix resgata um crime amplamente acompanhado em tempo real pelas redes sociais e o transforma em uma autópsia da nossa obsessão por narrativas digitais.
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A história é conhecida: Gabby Petito, uma influenciadora de viagens, desaparece durante uma road trip com o noivo, Brian Laundrie. Dias depois, ele retorna sozinho para casa, se recusa a cooperar com a polícia e, em seguida, também desaparece. O desenrolar do caso mobiliza internautas do mundo inteiro, que analisam pistas, vasculham postagens antigas e levantam hipóteses em fóruns online. A repercussão atinge um nível em que usuários comuns acabam sendo mais rápidos do que as autoridades na descoberta de detalhes cruciais.
O documentário da Netflix se apropria desse caráter hiperconectado da tragédia e apresenta os fatos sem recorrer ao artifício do mistério. Não há um assassino a ser descoberto nem uma reviravolta inesperada o que há é a desconstrução de um romance digitalmente perfeito que mascarava uma relação tóxica. O uso de imagens de câmeras corporais da polícia, trechos de vlogs e postagens do casal cria uma sensação incômoda: a realidade nunca foi o que parecia, mas, até que ponto escolhemos ignorar os sinais?
O ponto mais forte da série é a maneira como conduz as entrevistas. Os amigos de Gabby, sua família e os investigadores do caso constroem um relato que vai além da reconstituição dos eventos e toca na dinâmica de um relacionamento abusivo que se desenrolava diante dos olhos de milhares de seguidores. O material bruto, não filtrado pelos filtros e legendas otimistas do Instagram, mostra uma jovem tentando manter uma imagem enquanto a tensão ao seu redor se intensificava.
A ausência da perspectiva da família de Brian Laundrie não surpreende, mas também não compromete o documentário. O silêncio deles ao longo do caso já serviu como uma resposta uma escolha que apenas amplificou as suspeitas e a indignação pública. O que falta em contraponto narrativo, a série compensa com um mergulho detalhado na cronologia dos acontecimentos, expondo as lacunas, omissões e erros que tornaram o desfecho ainda mais revoltante.
Se há algo que poderia ser ajustado, talvez fosse a duração. Três episódios trazem profundidade ao caso, mas em alguns momentos, o ritmo parece se estender um pouco além do necessário. A história, no entanto, permanece forte o suficiente para prender a atenção.
Mais do que um documentário sobre um crime, “Homicídio nos EUA: Gabby Petito” funciona como um espelho para a era digital. Ele escancara como a construção de uma vida perfeita nas redes sociais pode mascarar uma realidade muito mais sombria e como a internet se tornou, ao mesmo tempo, palco e tribunal para tragédias como essa. Gabby queria compartilhar sua jornada com o mundo mas foi o mundo que acabou decifrando, peça por peça, o fim trágico dessa história.
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