Inspirado no sexto álbum de estúdio de The Weeknd, “Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes” é um thriller psicológico que acompanha um músico mundialmente famoso em uma noite de insônia que o leva a uma jornada inesperada com uma jovem obcecada por seu trabalho, interpretada por Jenna Ortega. O encontro entre os dois o conduz ao limite emocional, forçando-o a confrontar aspectos profundos e desconhecidos de sua identidade. A narrativa explora a fragilidade da fama, o esgotamento criativo e a tensão entre persona pública e autenticidade.
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Tecnicamente, o filme assume um estilo visual ousado. Trey Edward Shults imprime sua assinatura através de imagens claustrofóbicas, saturadas de cor, que remetem à estética de filmes como “Waves”. Há um senso de urgência visual que mantém o espectador imerso, mesmo que a estrutura narrativa nem sempre sustente essa intensidade. A trilha sonora, centrada no repertório do álbum, contribui para a atmosfera alucinada do longa. É uma experiência sensorial que flerta com o delírio.
A performance de Jenna Ortega é o ponto mais sólido do elenco. Sua personagem transita entre fascinação e ameaça de forma hipnótica. Barry Keoghan, com sua presença sempre inquietante, colabora para o clima de instabilidade. Já The Weeknd, interpretando uma versão ficcionalizada de si mesmo, entrega uma performance que oscila entre o cômico involuntário e o autoengrandecimento. Em algumas sessões, o público chegou a rir em momentos que, presumivelmente, deveriam ser sérios.
A ausência de uma narrativa coesa é proposital, mas nem sempre eficaz. “Hurry Up Tomorrow” se organiza mais como um fluxo de imagens e emoções do que como uma história tradicional. Isso pode alienar parte do público, especialmente aqueles que esperam um arco dramático mais definido. Há momentos em que o filme parece funcionar apenas como uma extensão visual do álbum, e não como uma obra cinematográfica independente.
O terceiro ato é particularmente problemático. É nele que o filme cede completamente à autorreferência e ao exibicionismo estético. A proposta de autopromoção atinge seu ápice de forma desconexa e por vezes risível. A intenção pode ter sido satírica ou provocativa, mas o resultado é ambíguo e pouco satisfatório.
Ainda assim, “Hurry Up Tomorrow” possui valor como experimento artístico. É um projeto pessoal, uma carta audiovisual que mistura música, performance e delírio autoral. Para os fãs de The Weeknd, funciona como uma celebração de sua estética e de seu universo criativo. As músicas não apenas ilustram a narrativa, mas conduzem a experiência emocional. Para quem está investido nesse universo, a entrega pode ser recompensadora.
No entanto, o filme levanta um ponto crucial: a arte deve se sustentar apenas pela força de sua estética, ou precisa de substância narrativa? “Hurry Up Tomorrow” arrisca uma resposta ousada, mas desequilibrada. Trey Edward Shults, um diretor de talento evidente, merecia um material mais sólido para transformar esse projeto em algo realmente memorável.
“Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes” é uma obra com intenções grandiosas, resultado instável e apelo limitado fora do público já cativado por The Weeknd. Como curiosidade ou extensão de um disco, pode fascinar. Como filme, carece de estrutura e propósito claro.
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