Existe um tipo de filme que aposta tudo no impulso: cenários exóticos, suspense de conveniência, tubarões renderizados às pressas e um vilão que atua como se soubesse que está em um filme ruim. “Into the Deep” parece buscar relevância no terreno dos thrillers marítimos, mas se afunda pela falta de rigor em praticamente todas as frentes narrativas e técnicas.
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A estrutura do filme é derivativa desde o ponto de partida. Uma protagonista marcada por um trauma aquático, uma expedição de mergulho com potencial dramático e a presença inevitável do perigo submarino. Mas logo se torna claro que não há um plano coerente de direção. A narrativa desmorona entre saltos temporais mal costurados, personagens descartáveis e um roteiro que parece acreditar que tensão pode ser criada apenas com cortes rápidos e gritos fora de lugar.
Visualmente, o longa opera em modo genérico. A fotografia digital tenta capturar a beleza do mar tailandês, mas falha em atribuir profundidade às imagens. Os efeitos visuais são um dos pontos mais frágeis do conjunto: os tubarões digitais são artificiais ao ponto de comprometer qualquer tentativa de realismo ou ameaça. Não há peso, não há volume, não há impacto. O predador, que deveria ser o centro gravitacional do medo, se torna quase uma alegoria cômica.
A direção de atores beira o improviso. Ninguém parece saber o tom da obra. Enquanto alguns personagens tentam sustentar um drama sincero, outros mergulham em caricaturas. O vilão, por exemplo, atua como se estivesse em outro filme, um que talvez soubesse da própria piada. E mesmo a presença de Richard Dreyfuss, que poderia trazer alguma gravidade, é diluída em participações ilustrativas e redundantes, como se o filme precisasse justificar seu próprio roteiro com flashbacks reciclados.
“Into the Deep” não é ruim porque pertence ao gênero dos thrillers de tubarão, mas porque recusa qualquer complexidade formal ou dramatúrgica. A ação é mecânica, previsível, e jamais constrói real perigo. A protagonista é subaproveitada, e a montagem parece desesperada para manter a energia artificialmente elevada, mesmo que a narrativa esteja em colapso desde a primeira sequência.
No final, o filme tenta sugerir uma camada social na reta final, como se quisesse compensar a superficialidade com um recado ecológico tardio. Mas não se constrói discurso onde não há convicção. A tentativa de inserir uma consciência no desfecho soa tão deslocada quanto os próprios tubarões digitais que infestam a trama.
“Into the Deep” é o tipo de obra que acredita que a presença de um predador basta para justificar a ausência de cinema. Um thriller sem tensão, um drama sem substância e uma aventura sem propósito. O mergulho prometido é raso, previsível e artificial. Um filme que já nasce sem ar.
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