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Crítica: Jackboys, “Jackboys 2”

Voltar a um projeto coletivo depois de cinco anos não é tarefa simples. Ainda mais quando o primeiro capítulo se transformou em um fenômeno comercial e cultural, muito mais por carregar o nome de Travis Scott no topo do pôster do que por sua coesão artística. Mas “JackBoys 2”, lançado em 13 de julho, não tenta repetir a fórmula do antecessor. Em vez disso, abraça o caos, valoriza o coletivo e mergulha de cabeça em um universo onde tudo pode acontecer. É um disco que soa como uma playlist montada por um grupo de artistas em um estúdio desgovernado, com Travis assumindo o papel de curador, mentor, dínamo criativo e, às vezes, mero espectador.

Crítica: Jackboys, “Jackboys 2”

O que mais chama atenção em “JackBoys 2” não é a consistência, mas a liberdade. A Cactus Jack Records criou aqui um experimento sonoro que parece funcionar à base da impulsividade, e isso traz consequências boas e ruins. Em certos momentos, o álbum é absolutamente viciante, com batidas absurdamente criativas, flows inusitados e um clima de urgência juvenil. Em outros, soa como uma mixtape mal finalizada, com mixagens irregulares, participações desnecessárias e ideias que pareciam boas às 3 da manhã, mas que cansam aos 3 minutos de duração.

Travis está mais presente nos bastidores do que à frente dos microfones. Quando aparece, entrega rimas afiadas, versos melódicos, ideias ousadas. Mas há uma clara intenção de dar palco aos nomes da casa: Don Toliver, SoFaygo, Sheck Wes e Wallie the Sensei ganham espaço para brilhar, experimentar, errar. A energia é de laboratório, não de museu. Algumas faixas soam como demos com orçamento milionário. Outras, como hinos prontos para explodir nos palcos e redes sociais. A imperfeição é parte do charme.

A produção é outro ponto que escancara o espírito do projeto. Em vez de apostar numa estética única, o disco muda de forma o tempo todo, do trap visceral ao afrobeat torto, do eletrônico sujo ao funk digital. É uma salada que poderia ser indigesta, mas acaba funcionando pela honestidade da proposta. Ninguém aqui está tentando criar o próximo “Astroworld”. “JackBoys 2” quer ser barulhento, diverso, imperfeito e vibrante. E isso, ele entrega.

Há momentos que claramente se destacam, mas o foco do disco não é criar hits isolados. É criar uma atmosfera. Ouvir “JackBoys 2” é entrar em um carro em alta velocidade sem saber onde vai parar. Às vezes o trajeto empolga, outras vezes cansa. Mas o sentimento geral é de movimento, de fluxo criativo, de uma cena que pulsa, mesmo que ainda esteja tentando entender seu próprio caminho.

O projeto também funciona como vitrine para o futuro da Cactus Jack. Don Toliver continua sendo a estrela mais polida, enquanto SoFaygo surge com fôlego novo. Sheck Wes ainda divide opiniões, mas tem personalidade de sobra. Wallie the Sensei surpreende em pequenos momentos, e participações externas como 21 Savage, Kodak Black, Tyla e até YoungBoy ajudam a dar textura ao álbum, mesmo quando não fazem muito sentido dentro do todo.

“JackBoys 2” é uma obra mais interessante do que brilhante, mais ousada do que bem resolvida, mais viva do que acabada. Se você espera coesão, talvez se frustre. Se espera espetáculo, vai encontrar pedaços dele em vários momentos. Mas se entende que esse projeto é um recorte de uma coletividade em expansão, cheia de vontades e vozes, é difícil não se empolgar com o que ele representa. Travis Scott continua sendo um arquiteto de atmosferas, mesmo que sua construção aqui seja feita com concreto, neon e tijolos soltos.

Nota: 70/100

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