“Jovens Amantes” é um filme que escorrega lindamente no excesso. E talvez seja justamente isso que o sustenta. É uma obra que se entrega ao delírio emocional da juventude sem pedir desculpas, sem tentar conter a fúria desordenada de quem está descobrindo o mundo com urgência e, ao mesmo tempo, tentando encenar esse mesmo mundo num palco.
Do mesmo diretor de “Noites Brutais”, “A Hora Do Mal” estreia em agosto no Brasil

O filme propõe um retrato da juventude artística francesa nos anos 1980, tendo como ponto de partida a mítica escola de teatro dos Amandiers, comandada por Patrice Chéreau. Mas o que poderia ser um mergulho coletivo num espaço de experimentação, criação e crise, acaba se concentrando demais em uma relação tóxica que consome a narrativa com uma fome pouco refinada. A promessa de pluralidade se perde no vício da repetição emocional de um casal, enquanto personagens promissores vão sendo apagados como rascunhos descartados.
Ainda assim, há algo magnético no modo como Valeria Bruni Tedeschi escolhe filmar esse descontrole. A câmera não repousa, não oferece estabilidade, não organiza a mise-en-scène para que o espectador se acomode. Ela se move com a inquietação dos corpos que tenta registrar. É uma mise-en-scène impulsiva, inconclusa e, por isso mesmo, absolutamente coerente com o retrato de juventude que o filme deseja construir.
A atuação coletiva oscila entre o caricato e o cru, mas o que se sobressai é a capacidade de capturar o que há de mais aflito nesse grupo de jovens: o medo de desaparecer. Todos os personagens, em algum nível, estão implorando para serem vistos, ouvidos, sentidos. E é essa ânsia por presença que os move para a frente, mesmo quando a narrativa insiste em sabotá-los com vícios melodramáticos.
Há também um jogo entre o documentário íntimo e a ficção estilizada. O fato de Valeria ter frequentado a escola e inserir elementos biográficos e metateatrais na narrativa confere ao filme um tom ambíguo. É um filme sobre a juventude, mas também sobre a memória da juventude, e esse descompasso entre o que foi vivido e o que é reencenado nunca se resolve completamente. E isso não é um defeito. É o ponto mais intrigante da obra.
A direção acerta ao não romantizar completamente o ambiente artístico. O abuso de drogas, as relações instáveis, a idealização dos mestres e a fragilidade emocional de todos os envolvidos são apresentados de maneira crua. O problema é que tudo isso é entregue de forma acumulativa, como se cada novo episódio traumático precisasse superar o anterior. Em vez de aprofundar, o filme acumula. E com isso, perde a chance de dar densidade real a seus personagens.
Tecnicamente, há momentos de brilho, principalmente quando o filme se permite sair do eixo da narrativa principal e explora brechas de tempo, ensaios, corpos em cena e fora dela. A trilha e a montagem acompanham esse ritmo nervoso, e a cenografia contribui para esse ambiente entre o poético e o decadente. Existe uma beleza áspera no modo como tudo se equilibra entre a celebração da arte e o desespero da juventude perdida em si mesma.
“Jovens Amantes” é, enfim, um filme que carrega mais potência do que precisão. Tem energia, tem impulso, mas falta clareza de foco. Ainda assim, não é um fracasso. É um filme que emociona por não saber direito o que está fazendo, como quem ama demais e se perde tentando provar isso. E talvez, em se tratando de juventude, não haja representação mais fiel do que essa.
Fique por dentro das novidades das maiores marcas do mundo! Acesse nosso site Marca Pop e descubra as tendências em primeira mão.