Há filmes que não sabem exatamente para onde querem ir, mas se lançam com tanta convicção na estrada que fingem ter um mapa. “June e John” se encaixa nesse tipo de cinema que veste o caos emocional como se fosse poesia urbana, mas tropeça na própria afetação quando tenta transformar ruído em lirismo. O que deveria ser um mergulho intenso em dois personagens feridos vira uma espiral de decisões apressadas, relações mal costuradas e um romantismo que confunde impulso com transcendência.
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É tentador olhar para o longa com a promessa de um encontro improvável que transforma vidas. O problema é quando essa transformação não vem de escolhas orgânicas, mas de um roteiro que força seus personagens a agirem como peças soltas de um jogo emocional sem regras. Tudo é impulsivo, tudo é intenso, tudo é dramático. Mas nada parece verdadeiramente vivido, experimentado, construído com a complexidade que se espera de personagens em colapso interno. O que se vende como uma jornada de amor e autoconhecimento, na prática, revela um relacionamento calcado em desequilíbrios, vícios emocionais e decisões que mais escancaram o desespero do que a paixão.
Há uma promessa estética que até sustenta o olhar durante certo tempo. A fotografia é cuidadosamente composta, algumas escolhas de enquadramento transmitem fragilidade, isolamento e um desejo genuíno de capturar algo cru nos dois protagonistas. Mas forma sem substância só leva até certo ponto, e logo fica evidente que o filme está mais interessado em parecer profundo do que em ser profundo de fato. A construção de John se arrasta sem urgência, girando em torno da ideia de que ele é um homem quebrado por dentro, mas sem nunca dar à audiência ferramentas para entender ou sentir essas rachaduras. Já June é empurrada para uma caricatura de intensidade, como se cada gesto precisasse ser excêntrico, incontrolável ou trágico. Faltam nuances, faltam silêncios, faltam os detalhes que tornam uma personagem viva.
A narrativa tenta trafegar entre o idílio romântico e o delírio trágico, mas o tom vacila. O filme se apaixona por seus próprios excessos, sem perceber o quanto isso mina a autenticidade da história. Quando o amor entre dois personagens se desenha como uma dinâmica de dependência mútua, ansiedade crônica e instabilidade emocional, o mínimo que se espera é que o roteiro tenha consciência disso. Mas a sensação é de que tudo está sendo romantizado, e não analisado. Fica a dúvida: é um retrato crítico de uma relação fadada ao colapso ou uma fantasia mal interpretada sobre amar sem limites?
O que poderia ser uma história de urgência afetiva se perde em desvios e distrações. Sequências aleatórias, diálogos forçados e simbolismos que não se conectam com o emocional dos personagens acabam sabotando o ritmo e a potência que o filme tenta alcançar. Há momentos que flertam com o absurdo e se sustentam unicamente na entrega dos atores, que se doam com intensidade. Mas a entrega performática, por mais intensa que seja, não consegue preencher os buracos de uma trama que promete transcendência e entrega uma colagem de boas intenções estéticas sem densidade dramática.
“June e John” parece fascinado pela imagem do amor como redenção, mas se esquece de que o amor também exige estrutura, contexto e verdade emocional. O resultado é um longa irregular, que tenta ser arrebatador, mas termina descompassado, preso numa paixão que jamais chega a pulsar com autenticidade.
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