“Karate Kid: Lendas” tenta reposicionar a mitologia da franquia para uma nova geração, investindo em um protagonista inédito, Li Fong (Ben Wang), ao mesmo tempo em que retoma figuras consagradas como Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e o Sr. Han (Jackie Chan), numa tentativa clara de cruzar temporalidades e estilos de artes marciais sob uma narrativa unificadora. A proposta, no entanto, resulta em uma obra fragmentada, que alterna entre intenções nostálgicas e inovações mal articuladas, prejudicada por uma construção dramática ineficiente e decisões estruturais questionáveis.
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O longa abre com uma promessa narrativa sólida: o deslocamento cultural de Li, um prodígio do kung fu forçado a abandonar Beijing após uma tragédia familiar e a adaptar-se à realidade de Nova York. A princípio, o roteiro ensaia uma abordagem mais sensível ao choque cultural e ao trauma, criando espaço para uma construção de personagem que, em teoria, ampliaria as camadas dramáticas habituais da franquia. No entanto, esse arco é rapidamente diluído por subtramas que carecem de desenvolvimento e função dentro da progressão dramática central, como a introdução do núcleo da pizzaria e o arco do pai da jovem interesse romântico, que culmina em um treinamento de boxe que jamais se conecta de maneira eficaz com a trajetória de Li.
Apesar da proposta de renovação estilística e fusão entre o kung fu e o karatê clássico da franquia, “Karate Kid: Lendas” incorre no erro de construir um vilão genérico, desprovido de motivações críveis ou presença dramática. A ausência de um antagonista relevante esvazia o clímax e acentua o caráter episódico do filme, cuja estrutura mais se assemelha à de um piloto estendido do que a de um longa com identidade própria. O torneio final, que deveria encerrar a narrativa com força simbólica e visual, é prejudicado por uma montagem acelerada, com cortes excessivos que comprometem a legibilidade e a coreografia das lutas.
A presença de LaRusso, aqui promovido ao papel de mentor, é tratada de forma desproporcional à sua importância simbólica. Sua entrada tardia no filme e o reduzido tempo de tela fazem com que sua participação soe mais como um fan service oportunista do que como um elemento integrador do arco de Li. O mesmo vale para a aparição de Johnny Lawrence (William Zabka), limitado ao papel de alívio cômico nos minutos finais, numa tentativa superficial de vincular a narrativa ao universo de “Cobra Kai”, série que, por contraste, revela o quanto “Karate Kid: Lendas” falha em expandir a mitologia com consistência, reverência e complexidade.
Mesmo as escolhas que poderiam representar uma evolução da fórmula original (como o afastamento do tema do bullying escolar) são comprometidas pela falta de um eixo dramático claro. O cotidiano de Li nos Estados Unidos, suas relações interpessoais e o processo de assimilação cultural são apenas sugeridos, jamais explorados em profundidade. A tentativa de substituir o tradicional conflito externo por uma dinâmica mais introspectiva e emocional não encontra suporte estrutural no roteiro, que parece indeciso entre o drama de formação e o filme de ação juvenil.
A exceção fica por conta das coreografias de luta, notavelmente influenciadas pelo estilo cômico-acrobático característico de Jackie Chan, cuja fisicalidade ainda dita o ritmo em algumas das melhores cenas do filme. A direção consegue, ocasionalmente, encontrar momentos de autenticidade na forma como Li incorpora elementos do kung fu ao universo do karatê, e há flashes de inventividade na fusão entre estilos e filosofias, especialmente quando o treinamento coordenado por Han e LaRusso entra em cena.
Ben Wang entrega um desempenho competente, conferindo ao protagonista uma vulnerabilidade realista. Seu relacionamento com o par romântico e com os coadjuvantes secundários até sugere uma tentativa de construção de comunidade, mas esses laços são superficialmente desenvolvidos. O arco do dono da pizzaria, por exemplo, é uma digressão narrativa que ocupa tempo precioso sem oferecer nenhuma recompensa dramática real.
Por fim, a estrutura irregular do filme, com um primeiro ato relativamente coeso e um segundo ato disperso, resulta em um terceiro ato que parece apressado e desprovido de impacto. “Karate Kid: Lendas” falha em justificar seu título: apesar de reunir nomes lendários da franquia, não consegue atribuir-lhes funções dramáticas à altura. O resultado é um filme que parece consciente de sua herança, mas incapaz de operá-la com a complexidade e a reverência que o material demanda.
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