Lançado em 24 de março de 2023, “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd” confirma Lana Del Rey como compositora capaz de equilibrar confissão íntima e ambição estrutural. Trabalhando com Jack Antonoff, Drew Erickson, Mike Hermosa, Zach Dawes e Benji, ela constrói um mosaico sonoro que alterna pianos reverberantes, texturas orquestrais e beats discretos, sem abandonar a melancolia californiana que permeia a discografia. Convidados como Jon Batiste, Father John Misty e Tommy Genesis funcionam como extensões dramáticas da própria voz de Lana, nunca como distrações.
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O disco abraça a mortalidade, a herança familiar e o peso da fé. Essa carga temática surge logo em “The Grants”, onde harmonias gospel se entrelaçam a versos sobre guardar memórias de quem partiu. A sequência atinge o primeiro clímax em “A&W”, sete minutos que começam como folk acústico e terminam em um breakbeat corrosivo, evidenciando uma dicotomia central do álbum: o choque entre contemplação e caos. A transição abrupta reforça a ideia de que o passado pode ruir sem aviso, e a produção acompanha o colapso emocional linha a linha.
Momentos mais etéreos aparecem em “Paris, Texas”, parceria com SYML ancorada por piano cristalino e reverbs longos. Os arranjos de cordas assinados por Drew Erickson abrem espaço para respirar antes de “Grandfather, please stand on the shoulders of my father while he’s deep-sea fishing”, faixa que funde piano minimalista e drones eletrônicos compostos por RIOPY. Há um lirismo quase místico quando Lana evoca a família como elo entre o terreno e o sagrado.
Jon Batiste brilha em “Candy Necklace”, adicionando improvisos de piano que lembram sessões de jazz de fim de noite. É o momento em que a instrumentação cresce sem se tornar grandiloquente, dando corpo a uma letra sobre vícios emocionais que se repetem como correntes. Pouco depois, a dupla com Father John Misty em “Let the Light In” transforma um arranjo de violão simples em hino suave sobre abrir portas internas, com harmonias cruzadas que remetem a duos do soft-rock setentista.
O ponto de excentricidade está em “Peppers”, onde Tommy Genesis impulsiona o andamento com flow ágil sobre sample de “Angel Baby”. A escolha quebra a sequência contemplativa, mas oferece respiro bem-vindo. Fishtail, por outro lado, pende para um trap lento que dilui o ritmo perto do encerramento. Entre eles, os interlúdios narrados por Jon Batiste e o pastor Judah Smith funcionam mais como fragmentos de atmosfera do que canções, o que pode soar dispensável.
A mixagem privilegia médios quentes e graves contidos, revelando detalhes a cada audição. Cordas gravadas no Village Studios se fundem a sintetizadores Prophet-6, e a voz de Lana permanece à frente, com compressão leve que mantém a respiração audível. Esse posicionamento íntimo do vocal garante que cada confissão pareça sussurrada ao ouvido, mesmo quando a orquestra se expande ao fundo.
Em comparação com “Norman F***ing Rockwell!”, “Chemtrails Over the Country Club” e “Blue Banisters”, o novo trabalho refina elementos dessas eras e agrega profundidade espiritual rara no pop atual. Há excessos pontuais, mas o núcleo composicional se mantém firme, graças à escrita de versos que misturam imagética americana, referências bíblicas e reflexões sobre fama e mortalidade.
No balanço final, “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd” confirma Lana Del Rey no auge de sua capacidade narrativa. Mesmo com interlúdios irregulares, o álbum oferece uma jornada coesa por dor, legado e busca de transcendência. Destaques absolutos: “A&W”, “Candy Necklace”, “Paris, Texas”, “Let the Light In” e o refrão catártico da faixa-título. Uma obra que pede audições sucessivas, sempre revelando novas camadas de beleza obscura.
Nota: 95/100
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