Lizzo parece determinada a nos lembrar que sabe se divertir. “My Face Hurts from Smiling” chega com esse título quase provocativo, como quem antecipa a pergunta óbvia: rir de quê? O disco, classificado como mixtape, se instala numa zona híbrida entre experimento despretensioso e tentativa de reconquista estética. Mas a verdade é que o que se apresenta aqui não é exatamente uma guinada, nem uma renovação, mas um exercício ruidoso de presença, ainda que cambaleante, num cenário que se move rápido demais para quem insiste em dançar no mesmo lugar.
Do mesmo diretor de “Noites Brutais”, “A Hora Do Mal” estreia em agosto no Brasil

Tecnicamente, o álbum revela uma estrutura frágil, tanto de composição quanto de identidade sonora. Lizzo flerta com o rap em sua forma mais simplificada, apoiando-se em batidas que giram sempre no mesmo eixo, enquanto dispara versos que orbitam o mínimo denominador comum da performance performativa. O disco soa como um playground onde tudo é permitido, mas onde falta profundidade emocional e foco narrativo. A energia está lá, visível, às vezes até contagiante, mas raramente é canalizada para algo que realmente sustente a audição.
Há uma aparente confiança no improviso que tenta se passar por espontaneidade, quando na verdade revela pressa, falta de edição e uma crença equivocada de que carisma por si só resolve tudo. Lizzo aposta na ideia de que basta estar em cena para ser interessante, mas o cenário competitivo atual cobra mais. Em vez de um retorno provocador, ela entrega uma sucessão de ideias soltas, algumas bem-humoradas, outras constrangedoras, todas embaladas numa estética que parece ter saído de um laboratório de tendências com pouca ventilação.
O que se escuta é um material que parece mais preocupado em ser barulhento do que em ser bom. As colaborações reforçam ainda mais essa desproporção, não porque sejam ruins, mas porque evidenciam um problema de proporção artística. Quando os convidados ocupam o centro da atenção com mais fluidez e carisma do que a anfitriã, algo se perde na equação. E não é apenas sobre brilho individual. É sobre o controle da narrativa, sobre saber onde está o coração do disco.
“My Face Hurts from Smiling” poderia ter sido uma válvula de escape, um experimento sincero, uma pausa irreverente. Em vez disso, soa como uma tentativa forçada de manter relevância num terreno onde ela já não se movimenta com tanta naturalidade. O que poderia ser um reposicionamento artístico se desenha mais como uma resposta apressada ao algoritmo do momento. E no fim, a promessa de sorriso constante vira ruído incômodo. Um riso nervoso, talvez. Ou apenas o eco de quem ainda busca seu próximo refrão memorável.
Nota: 45/100
Fique por dentro das novidades das maiores marcas do mundo! Acesse nosso site Marca Pop e descubra as tendências em primeira mão.