Lançado em 2017, “Melodrama” representa uma virada ambiciosa e bem-sucedida na carreira de Lorde. Se “Pure Heroine” era sobre observar o mundo de fora, “Melodrama” é sobre estar no centro do furacão, emocional, sonoro e existencial. Trabalhando ao lado de Jack Antonoff, Lorde mergulha em um pop mais denso, teatral e emocionalmente exposto, trocando o minimalismo juvenil do disco anterior por camadas complexas que refletem o turbilhão de sua vida aos 19 anos.
Quem é Alex Warren? Conheça o cantor que tirou Lady Gaga e Bruno Mars do topo do Spotify

O álbum tem uma estrutura conceitual solta, ambientada em uma festa que serve de pano de fundo simbólico para os altos e baixos pós-término. É um recurso eficaz: a euforia, o vazio, os reencontros, as fugas e os silêncios preenchem cada faixa com intensidade quase cinematográfica. Mas o mais impressionante é o quanto essa narrativa soa íntima. Lorde escreve como quem sussurra confissões a um amigo, mesmo quando tudo à volta pulsa com sintetizadores e refrões explosivos.
“Green Light” abre o álbum de forma quase paradoxal, uma canção vibrante sobre alguém que ainda está emocionalmente paralisado. A melodia é expansiva, mas as letras revelam frustração e desejo de libertação. Esse contraste entre som e sentido aparece várias vezes ao longo do disco, e é justamente o que dá a “Melodrama” sua força. Há festa, sim, mas também há luto. O synthpop aqui não mascara o drama, amplifica.
Em “Liability”, a ambientação muda radicalmente. Piano, voz e silêncio. Nada sobra. A vulnerabilidade da faixa é crua, e a performance vocal, contida, mostra maturidade interpretativa. É um dos momentos mais reveladores do álbum. Lorde não só reconhece o sentimento de ser “demais para alguém”, como o transforma em arte.
“Writer in the Dark” retoma esse ponto, mas com ainda mais acidez. O arranjo, pontuado por um piano tenso, evoca Kate Bush em seus momentos mais teatrais. E quando Lorde canta “Bet you rue the day you kissed a writer in the dark”, ela parece assumir o controle da dor, não mais como vítima, mas como autora (literalmente) da própria narrativa. É vingança transformada em melodia.
Em contraste, “The Louvre” se permite divagar, num art pop de batidas quebradas e versos oblíquos que tratam da obsessão com aquele amor que parece trivial aos olhos de fora, mas que para quem vive, é arte em exposição permanente. Já “Supercut” é pura catarse. Uma corrida mental por lembranças idealizadas, que colidem com a realidade. O instrumental grandioso reforça o impulso nostálgico e a sensação de repetição. Não à toa, ela canta “in my head, I do everything right”.
A produção é impecável. Antonoff entende o espaço emocional das músicas e constrói arranjos que nunca soam excessivos ou vazios. Cada detalhe, um reverb repentino, uma batida seca, uma pausa dramática, serve à narrativa da faixa. “Melodrama” é coeso, mas não monótono. Há espaço para baladas dolorosas, experimentações e explosões pop, tudo costurado por uma identidade muito clara.
E então vem “Perfect Places”, o encerramento ideal. Uma reflexão sobre a busca constante por experiências intensas que, no fundo, nunca são suficientes. É o fechamento melancólico e honesto de um ciclo. Não há resposta definitiva, mas há uma aceitação madura da pergunta: o que realmente estamos procurando?
O lirismo é um dos maiores trunfos do disco. Lorde sabe como condensar sentimentos complexos em frases simples, mas cheias de impacto. A juventude aqui não é retratada como algo leve ou superficial, é dramática, intensa, caótica. E isso a torna ainda mais real. As letras equilibram ironia, dor, desejo e uma autoanálise rara para artistas da mesma faixa etária.
“Melodrama” é o tipo de álbum que cresce a cada audição. Não pelo volume de produção ou pelas melodias fáceis, mas porque ele traduz sentimentos difusos em canções que parecem ter sido escritas para você. Lorde não entrega uma persona pop idealizada. Ela entrega falhas, dúvidas e contradições com uma sensibilidade impressionante.
Nota: 90/100
Fique por dentro das novidades das maiores marcas do mundo! Acesse nosso site Marca Pop e descubra as tendências em primeira mão.