A primeira M3GAN nasceu como um experimento pop entre o horror e o viral. A continuação, porém, decide sair do porão do terror tecnológico e se lançar, sem freio, em um terreno muito mais delirante: uma mistura de sátira sci-fi, blockbuster de ação e comédia autoindulgente, onde a IA homicida ganha proporções de ícone e salva o mundo de si mesma. É, isso mesmo.
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M3GAN 2.0 não quer ser séria. E isso já é um ponto de partida melhor do que muitas sequências que se levam a sério demais. A nova trama abandona qualquer senso de verossimilhança para mergulhar em um espetáculo escancaradamente exagerado, onde o conceito de “evolução narrativa” é substituído por um “vamos tornar tudo mais absurdo e mais glamouroso”. A inteligência artificial agora é também uma arma de guerra. O futuro é um delírio estilizado, com direito a combate entre robôs, dilemas morais sobre ética tecnológica e uma protagonista que parece saída de um desfile cyberpunk em dia de apocalipse.
É fato que o roteiro se complica mais do que deveria. As camadas de geopolítica, paranoia tecnológica e crítica corporativa estão ali apenas para fingir profundidade. O centro emocional entre Gemma e sua sobrinha segue presente, mas vira pano de fundo para explosões, frases de efeito e confrontos entre androides. E tudo bem. Porque o que o filme quer entregar não é reflexão, é entretenimento autoconsciente. E isso ele faz com uma precisão quase debochada.
A direção entende o tom e se diverte com ele. Há uma liberdade criativa que flerta o tempo todo com o exagero proposital, onde o kitsch encontra o blockbuster e a cultura pop é reciclada sem culpa. Se na primeira versão havia um esforço para equilibrar susto e crítica, aqui a proposta é se divertir com o fato de que M3GAN virou um símbolo. Ela dança, briga, solta frases sarcásticas e ainda funciona como avatar de toda uma geração que já nasceu em simbiose com a tecnologia. É impossível ignorar o quanto o filme entende seu próprio apelo entre o público LGBTQIA+, e constrói em cima disso um produto que abraça o exagero com estilo.
Mas isso não quer dizer que tudo funcione. Há momentos em que o filme se perde nas próprias tentativas de parecer relevante. A discussão sobre o uso militar da IA, por exemplo, aparece de forma truncada e superficial. As implicações éticas do reaproveitamento de tecnologia para fins destrutivos são apenas um pano de fundo para a pancadaria estilizada. A crítica existe, mas é tímida demais perto do espetáculo que consome tudo ao redor.
Visualmente, o filme escala. A produção ganha fôlego, efeitos melhores e uma direção de arte que se diverte ao transformar o high-tech em design de palco. Há momentos em que tudo parece um videoclipe distópico patrocinado por uma marca de wearables. E isso é um elogio. A trilha sonora empurra o ritmo, a montagem acelera as resoluções, e tudo corre para o confronto inevitável entre as duas versões de IA: M3GAN, a justiceira imprevisível, e Amelia, o monstro fabricado por uma corporação que acha que pode controlar tudo.
M3GAN 2.0 é o tipo de sequência que entende sua missão: ser mais barulhenta, mais brilhante, mais exagerada. Ela não repete a fórmula, ela amplia. Troca o terror pelo espetáculo. Troca o suspense por ironia. Troca a dúvida pela certeza de que o público está ali para rir, gritar e sair do cinema com um meme novo. É um cinema que funciona dentro da sua própria lógica, mesmo que isso signifique abandonar qualquer compromisso com coerência.
No fim das contas, a pergunta certa talvez não seja se M3GAN 2.0 é boa ou ruim, mas se ela é divertida o suficiente para justificar sua existência. E a resposta é sim. É um filme que sabe o que está fazendo, até quando parece que não sabe. Vai agradar quem entende que a experiência é mais importante que a estrutura, e que às vezes o exagero é a única forma honesta de contar uma história.
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