A Coreia do Sul parece ter descoberto um talento quase místico para reinventar a violência. Em “Mantis”, o sangue é mais coreografia do que consequência, e cada golpe carrega a precisão de quem entende o caos como uma forma de arte. O filme não se limita a mais uma história sobre assassinos, mas tenta cavar o vazio moral por trás do instinto de matar.
- Bad Bunny será a atração principal do show de intervalo do Super Bowl 2026
- Doja Cat anuncia data única da “Ma Vie World Tour” no Brasil
- Confira as datas e cidades dos Ensaios da Anitta 2026
A trama gira em torno de um matador lendário que retorna à ativa apenas para descobrir que o império onde construiu sua reputação ruiu. O chefe da MK Enterprise está morto e o submundo do crime, antes controlado, agora se divide em facções de vaidades. Ao decidir abrir sua própria empresa, Mantis acende o pavio de uma guerra silenciosa. Tudo ganha outro tom quando ele cruza o caminho de Jae-yi, uma rival tão letal quanto magnética, e se vê diante de uma nova disputa por poder, respeito e sobrevivência.
O filme trabalha o tema da competição como um vício que consome o indivíduo. O desejo de ser o “número um” é tratado quase como uma doença genética, transmitida de geração em geração. Dok-Ko, o antigo mentor, representa a velha ordem um tempo em que matar era método, não espetáculo. Mantis e Jae-yi encarnam o colapso dessa tradição, duelando dentro de um mundo que já perdeu qualquer noção de hierarquia ou propósito.
Visualmente, “Mantis” é arrebatador. A fotografia é fria e calculada, cheia de enquadramentos que parecem coreografar o movimento dos corpos como se fossem extensões de um mesmo instinto. A direção de Lee Tae Sung constrói a ação como uma sinfonia violenta, onde o som dos impactos substitui o diálogo e cada cena de luta se torna um comentário sobre controle e fragilidade. A câmera nunca é passiva: ela respira junto dos personagens, mergulha nas pausas e entende que o silêncio também pode matar.
O roteiro, por outro lado, não alcança toda a profundidade que sugere. Há momentos em que a trama se perde entre reviravoltas e discursos sobre poder, e a densidade simbólica ameaça se dissolver em excesso de estilo. Ainda assim, o filme se sustenta pela química magnética entre Si-wan Yim e Park Gyu-young, que transformam a rivalidade em tensão sexual e a violência em dança.
Há algo de “Kill Boksoon” pairando sobre “Mantis”, e essa sombra pesa. O longa flerta com o mesmo universo de matadores, mas prefere seguir um caminho mais introspectivo, quase filosófico. O problema é que nem sempre parece disposto a se comprometer com o que começa a construir. As reflexões sobre culpa e redenção surgem, mas logo são engolidas pela estética da destruição.
Mesmo assim, “Mantis” conquista pela energia, pelo ritmo e pela capacidade de capturar o espectador no olho do caos. É um filme sobre o limite entre o instinto e a identidade, sobre o preço de viver em um mundo que transforma a morte em profissão. No fim, o que resta é a imagem de um homem que tenta criar sua própria ordem em meio ao colapso, e descobre que a verdadeira batalha nunca foi contra os outros mas contra si mesmo.
“Mantis”
Direção: Lee Tae Sung
Roteiro: Lee Tae Sung, Sung-hyun Byun
Elenco: Si-wan Yim, Park Gyu-young, Woo-jin Jo
Disponível em: Netflix
Fique por dentro das novidades das maiores marcas do mundo! Acesse nosso site Marca Pop e descubra as tendências em primeira mão.