Existe um esforço em “Marshmallow” que merece atenção. O filme tenta escapar do que se espera de uma narrativa ambientada em acampamentos de verão, e mesmo tropeçando em seus próprios conceitos, há algo de valente em sua tentativa de combinar horror atmosférico com ficção científica de baixo orçamento. Nem sempre funciona, mas não soa genérico. E em um cenário saturado de fórmulas recicladas, só isso já importa.
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A direção de Daniel DelPurgatorio aposta em uma estrutura narrativa que flerta com o mistério e o estranhamento antes de mergulhar em explicações mais diretas. E esse é justamente o ponto de tensão da obra: a hesitação entre sugerir ou revelar. A construção inicial é lenta, os personagens são desenhados com cuidado, mas o filme parece perder fôlego quando decide abandonar a ambiguidade e oferecer respostas demais. O ritmo oscila e o desequilíbrio entre proposta e execução pesa contra a imersão.
Existe um contraste curioso entre o visual do filme e o tipo de narrativa que ele tenta sustentar. O visual evoca um passado familiar, quase nostálgico, com seus cenários de cabanas, lagos e crianças deslocadas. Já a história, por outro lado, tenta dobrar essa ambientação sobre si mesma e introduzir um discurso mais metafísico, quase existencial. Só que essa dobra nunca se fecha com firmeza. A conexão entre as camadas narrativas fica frouxa, deixando buracos perceptíveis na coesão do todo.
Mesmo assim, há méritos claros. O elenco jovem segura bem a barra. Há naturalidade, timing e energia nos diálogos, o que evita que tudo escorregue para o artificial. As interações entre os personagens funcionam melhor que a trama maior, o que diz bastante sobre onde o filme encontra alguma verdade. Quando deixa as crianças serem apenas crianças, a coisa respira. Quando tenta inflar demais o conceito, sufoca.
A trilha sonora é outro ponto que merece atenção, embora talvez não da melhor forma. É invasiva, ansiosa, insistente em reforçar cada mínima tensão como se o espectador não fosse capaz de percebê-la sozinho. Essa necessidade de sublinhar o óbvio fragiliza a atmosfera. O horror, em sua melhor forma, vem do silêncio, da espera, da sugestão. Aqui, ele vem embalado com avisos sonoros, o que compromete o impacto.
“Marshmallow” tem ideias que valem ser vistas, mas se perde na hora de lapidá-las. Falta concisão estrutural e sobra ambição narrativa, o que pode ser lido tanto como falha quanto como qualidade. Ao menos, não se trata de um produto genérico. O filme acredita em sua proposta até o fim, mesmo que não saiba exatamente como entregá-la.
Ainda que os trinta minutos finais concentrem o melhor da experiência, a jornada até lá é irregular. A sensação final é de potencial desperdiçado, de um conceito interessante que merecia outro tipo de abordagem. Com um orçamento mais sólido e um roteiro mais consciente do próprio escopo, talvez essa história encontrasse o impacto emocional e narrativo que busca com tanto afinco.
“Marshmallow” é menos sobre o que acontece e mais sobre como isso é sugerido, moldado e, infelizmente, apressado. O filme queria ser estranho, ousado e melancólico, mas acaba se contentando com uma mistura tímida de boas intenções e execução desigual. Não falha por completo, mas também não chega onde poderia. Fica ali, no meio do caminho, queimando lentamente sem nunca derreter de verdade.
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