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Crítica: “Medo Real” (True Haunting)

Há algo perturbador na maneira como “Medo Real” se constrói. Criada sob o olhar de James Wan, o mesmo diretor que redefiniu o terror contemporâneo com “Invocação do Mal”, a série da Netflix mergulha em histórias sobrenaturais que nascem do mundo real e ganham forma com uma precisão cinematográfica quase cruel. É um híbrido de documentário e ficção que desafia o espectador a encarar o medo não como entretenimento, mas como experiência.

Crítica: “Medo Real” (True Haunting)

Cada episódio de “Medo Real” revisita casos que, de fato, foram vividos por pessoas comuns. O primeiro, “Eerie Hall”, apresenta Chris Di Cesare, um estudante universitário do interior de Nova York em 1984, interpretado por Wyatt Dorion. O que começa como uma rotina de faculdade rapidamente se transforma em um pesadelo que parece se alimentar do medo do próprio protagonista. Vozes sussurram seu nome, sombras se movem nos cantos do quarto e o que antes era dúvida se torna uma presença inescapável.

A narrativa alterna entre entrevistas e dramatizações, e é aí que James Wan mostra por que é considerado um mestre do gênero. As reconstituições não funcionam apenas como complemento visual, mas como parte integral da atmosfera, elevando o material documental a um nível de tensão raro. O terror aqui não vem do susto fácil, mas da imersão psicológica. Wan e sua equipe tratam cada história com o mesmo rigor técnico de um longa-metragem, e isso se reflete no ritmo, na fotografia e na forma como o som é manipulado para aumentar a sensação de desconforto.

Há algo quase ritualístico na forma como as lembranças são reconstruídas. Quando Chris descreve os acontecimentos, a câmera parece compartilhar seu delírio, como se estivéssemos presos dentro de sua mente. É o terror do real, o tipo de medo que nasce da dúvida e é justamente essa dúvida que mantém o público conectado. Afinal, o que é mais assustador: um fantasma à espreita ou a possibilidade de que tudo esteja apenas na cabeça de alguém?

“Medo Real” equilibra razão e mistério de forma quase científica. As entrevistas trazem o peso do testemunho, enquanto as dramatizações capturam o impacto emocional desses eventos. O resultado é uma obra que questiona a própria natureza da percepção humana. Quando o protagonista tenta entender se o que viu foi sobrenatural ou uma manifestação mental, o espectador é convidado a refletir junto com ele. O medo aqui é estudado, dissecado e transformado em narrativa, sem jamais perder sua autenticidade.

O mais impressionante é como a série nunca se rende ao sensacionalismo. Wan evita o exagero e aposta na sugestão. O terror surge daquilo que não se mostra, das pausas e dos silêncios, do olhar fixo de quem acredita ter visto algo que ninguém mais viu. É nessa escolha que “Medo Real” se distingue de tantas outras produções do gênero. A série entende que o medo mais verdadeiro não precisa ser provado ele só precisa ser sentido.

Com direção técnica impecável, atuações contidas e uma estrutura que respeita o real, “Medo Real” reafirma James Wan como um criador capaz de transformar o horror em linguagem. A combinação entre o documental e o ficcional cria um terreno interessante para a dúvida, onde a razão e o sobrenatural se misturam até que o limite entre ambos deixe de existir.

“Medo Real”
Direção: James Wan
Elenco: Wyatt Dorion, Ariel Barros, Rhys Alexander Phillips, Ralph McLeod, Mackenna Pickersall
Disponível em: Netflix

Avaliação: 4 de 5.

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