“Meu Bolo Favorito” é um filme que, em sua aparente simplicidade, carrega camadas profundas de significado e uma carga política que transcende a história central. Longe de ser apenas uma comédia romântica convencional, o longa-metragem dirigido por Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha oferece uma reflexão sutil, mas contundente, sobre a realidade das mulheres iranianas, abordando temas como liberdade, amor e a busca por autonomia em um contexto repressivo.
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A narrativa segue Mahin, interpretada com sensibilidade por Lili Farhadpour, uma viúva septuagenária que vive uma rotina solitária em Teerã. Quando decide se abrir para novas experiências, sua vida ganha um novo significado ao conhecer Faramarz (Esmaeel Mehrabi), um taxista igualmente solitário. A relação entre os dois se desenvolve de maneira orgânica, sem pressa, refletindo a dificuldade de se permitir viver um amor na terceira idade, especialmente em um país onde o papel da mulher é rigidamente limitado por normas culturais e religiosas.
O filme não se limita a contar uma história de amor tardia; ele insere, de forma delicada, uma crítica ao sistema político iraniano. O simples ato de um casal idoso se permitir viver uma relação pode ser visto como um ato de rebeldia em um regime que impõe restrições severas ao comportamento feminino. Essa dimensão política do filme, embora nunca seja exposta de maneira didática ou panfletária, permeia cada cena, dando ao longa uma relevância que vai além do cinema e adentra o campo dos direitos humanos.
A direção minimalista de Moghaddam e Sanaeeha se destaca ao construir uma atmosfera intimista, onde cada silêncio e troca de olhar carrega um peso significativo. A cinematografia opta por uma paleta de cores suaves e uma composição visual que valoriza os espaços pequenos, reforçando a sensação de enclausuramento que permeia a vida dos protagonistas. A edição, porém, pode parecer lenta para alguns espectadores, já que o filme se permite explorar os detalhes da rotina de Mahin sem pressa.
A atuação de Lili Farhadpour é um dos pontos altos do filme. Com uma performance contida e expressiva, ela transmite com maestria a melancolia e a esperança de sua personagem. Esmaeel Mehrabi também entrega um trabalho convincente, e a química entre os dois atores é palpável, tornando crível o romance que se desenrola de forma gradativa.
“Meu Bolo Favorito” também se destaca por seu humor sutil. Pequenos momentos de leveza surgem naturalmente, sem destoar da seriedade do tema principal. O humor se manifesta na interação entre os protagonistas e na forma como eles tentam navegar pelas convenções sociais que os limitam.
No Brasil, o filme teve um lançamento mais restrito nos cinemas em fevereiro de 2025, chegando ao Prime Video como um dos destaques do catálogo de venda e aluguel. Esse formato de distribuição reflete a dificuldade que filmes independentes enfrentam para alcançar um público maior, mas também ressalta o interesse crescente por histórias que oferecem perspectivas diferentes do tradicional cinema comercial.
Apesar de seus méritos, “Meu Bolo Favorito” pode não agradar a todos. O ritmo deliberadamente pausado pode parecer arrastado para quem espera uma narrativa mais dinâmica. No entanto, essa escolha estilística é parte essencial da experiência que o filme propõe: uma imersão na vida cotidiana de uma mulher que, por muito tempo, acreditou que suas oportunidades haviam se esgotado.
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