A proposta de “Mountainhead” tem peso: colocar quatro magnatas do setor de tecnologia em uma bolha de luxo enquanto o mundo desmorona ao redor. A promessa era uma imersão crítica no colapso da elite digital, um ensaio ácido sobre poder, disrupção e delírio de grandeza. O que se vê, porém, é uma coleção de maneirismos já exaustos, travestidos de crítica, sem a menor convicção sobre o que pretende denunciar.
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A direção opta por uma estética que tenta fugir da assinatura visual de “Succession”, mas o esforço é pouco mais que superficial. O mesmo olhar cínico, os mesmos tiques de linguagem, os mesmos movimentos de câmera que fingem espontaneidade. Até a trilha, em sua tentativa de soar distinta, acaba funcionando como lembrete involuntário de que nada ali é novo. A obra se alimenta da própria fórmula até a saturação.
Visualmente, o filme beira a simulação. Tudo parece controlado ao ponto de esterilizar qualquer tensão real. A mise-en-scène é limpa demais para um mundo em colapso. O ritmo narrativo, por outro lado, é esticado artificialmente, sufocando qualquer impulso dramático com uma verborragia que se acredita inteligente.
A maior fragilidade está no texto. Há uma obsessão evidente com o léxico da elite tecnológica, com sua retórica esvaziada, suas poses de Messias e seus fetiches por inovação. Mas Armstrong confunde exposição com análise, como se reproduzir o discurso dessas figuras fosse suficiente para desmontá-lo. Falta rigor. Falta incisão. Falta desconstrução. Em vez de tensionar, ele observa. Em vez de confrontar, ele caricatura. E a caricatura, nesse caso, é covarde pois escolhe o excesso sem correr risco algum.
Há um senso de urgência simulado, mas a obra parece apenas correr em círculos. Nada explode, nada implode. A crítica social dilui-se no ruído. E por mais que o filme insista em mostrar a decadência dessa bolha, o que se sente é que o autor ainda é cativado por ela. Há algo quase fascinado na forma como esse universo é retratado. A ironia perde força quando vem acompanhada de admiração.
“Mountainhead” tenta morder, mas só lambe.
Num momento em que o cinema político precisa ser mais que esperto, Armstrong entrega um produto que se sente confortável demais no cinismo. O filme parece feito por alguém que já foi revolucionário, mas que agora prefere rir do sistema do que desafiá-lo de fato. No fim das contas, tudo soa como um eco vazio de uma sátira que já vimos antes, e melhor executada.
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